16.3.07

Situações mais dramáticas na região vinícola

Ana Cristina Pereira, in Jornal Público

O secretário de Estado das Comunidades, António Braga, anunciou ontem que se vai encontrar com a sua homóloga espanhola a 22 de Março, em Madrid, para analisar casos de trabalhadores portugueses explorados em Espanha revelados nos últimos anos. Os mais dramáticos têm surgido na região vinícola que atravessa comunidades separadas por linhas quase invisíveis: La Rioja, Álava (País Basco) e Navarra.

As investigações têm sido feitas sobretudo em Espanha, embora haja algumas desencadeadas por Portugal. Ainda não fechou a que, a 25 de Abril de 2005, levou a Polícia Judiciária a deter 23 indivíduos indiciados por sequestro, escravidão, branqueamento de capitais e associação criminosa. As oito mulheres e os 15 homens (detidos após buscas domiciliárias feitas, em simultâneo, em Alfândega da Fé, Torre de Moncorvo, Murça, Chaves, Mirandela, Meda, Ílhavo e, mais tarde, Castro Daire) angariavam trabalhadores com défices diversos: desempregados, pouco escolarizados, alguns com dependências ou mesmo com debilidade mental, que labutavam "de sol a sol" por quase nada em La Rioja e dormiam em habitações muito degradadas - amiúde sem água ou luz.

Os suspeitos então detidos já estavam referenciados pelas autoridades espanholas há muito. Ao que o PÚBLICO apurou, as investigações prosseguem. Embora neste momento estejam mais nas mãos das polícias de Espanha. Desconhecia-se, ao final do dia de ontem, se os agora detidos pela Guarda Civil também estavam referenciados em Portugal pelo mesmo tipo de crime. A mobilidade dos subcontratadores é grande. É comum residirem numa localidade da região de La Rioja e colocarem os trabalhadores em explorações agrícolas de Navarra ou do País Basco e vice-versa. Também é vulgar mudarem de região, quando caem na alçada das autoridades. Os intermediários usam assim as fronteiras regionais para ludibriar as autoridades.