1.11.07

Fórum Temático e Mostra Social

Luís Miguel Ferraz, in Jornal Regional

Batalha debate envelhecimento e intergeracionalidade


O “II Encontro do Saber”, organizado pela Câmara Municipal da Batalha e pelo Núcleo Distrital de Leiria da Rede Europeia Anti Pobreza (NDL/REAPN), decorreu nos passados dias 12 a 14 de Outubro, subordinado ao tema “Desafios da Intergeracionalidade”.

Este é o segundo ano em que se realiza o evento, que visa sobretudo promover a participação activa da população idosa na sociedade, integrando dois módulos principais: um de conferências e debates; e outro de mostra social de instituições concelhias que trabalham mais directamente com os mais idosos. É sobretudo para estas instituições, públicas e privadas, que se destina o encontro, já que um dos métodos de abordagem consiste, precisamente, no intercâmbio de experiências e partilha de metodologias de trabalho. O tema deste ano levou ao debate a problemática do envelhecimento na perspectiva dos benefícios que poderão advir da intergeracionalidade, isto é, da ligação activa dos idosos com as restantes gerações, sobretudo as mais jovens.

Fórum temático

Dado estar a decorrer o Ano Europeu para a Igualdade de Oportunidades para Todos (AEIOT), foi neste contexto que se abordou a questão da relação entre gerações, no fórum do dia 12, co-organizado pela Assembleia Municipal da Batalha, dando cumprimento a uma proposta do Governo Civil de Leiria para o debate deste tema europeu em cada um dos concelhos do Distrito. “Oportunidades para a Igualdade: O Contributo da Intergeracionalidade” foi, assim, o mote lançado pelo presidente da Assembleia Municipal, Francisco Freitas, que começou por salientar a convívio intergeracional como contributo importante para a “melhoria da qualidade de vida das pessoas mais idosas, dando-lhes a oportunidade de desempenharem um papel importante e activo na construção social: seja pelo acompanhamento e pela transmissão de conhecimentos e experiências às gerações mais novas, seja pelo enriquecimento que recebem no contacto com elas”. Lembrando as consequências que acarreta o actual “aumento constante e progressivo dos idosos na população”, Francisco Freitas afirmou que deverá evitar-se o seu “envelhecimento sociológico”, sobretudo na procura de “caminhos que levem à igualdade na distribuição dos serviços e impeçam a marginalização económica ou social das pessoas idosas”, como seja a formação contínua e a convivência entre gerações. A este propósito, o presidente da Assembleia Municipal, lançou alguns apelos para uma maior atenção do Estado à promoção da família e das suas condições de vida, para que possam acompanhar, não só as suas crianças, como também os seus idosos.

Na mesma linha, o padre Jardim Moreira, presidente da NDL/REAPN, acusou “as políticas estúpidas de destruição frontal da família que os últimos governos têm levado a cabo”, como causa da desintegração social, e lamentou que “Portugal seja o país mais pobre e mais injusto da Europa, em que os pobres são tratados como bandeira política e não como cidadãos que devem participar no seu próprio processo de integração social”. Salientando o bom exemplo da acção da autarquia da Batalha nesta matéria, este responsável defendeu que deverá haver “uma nova cultura civilizacional”, em que os pobres deixem de ser encarados como “fruto da preguiça ou da má sorte” e se assuma a raiz da pobreza na injustiça da sociedade, que acentua cada vez mais o fosso entre pobres e ricos.

Para o primeiro painel do debate, foram convidados Cristina Gonçalves, técnica do Instituto Nacional de Estatística, e Luís Pascoal, membro da Estrutura de Missão para o AEIOT. A primeira elaborou uma detalhada apresentação do tecido social do País, salientando o gradual envelhecimento da população e caracterização de vários factores relacionados com o modo de vida da população idosa, da geração mais nova e das famílias em geral. Em resumo, “temos uma taxa de pobreza maior do que a média europeia, centrada sobretudo na população idosa, mulheres viverem sós e famílias com mais de dois filhos”. Já o segundo orador falou da necessidade de se combater discriminação no modo de vida actual, em que “todos nós discriminamos”. Deu como exemplo caso das ofertas de emprego publicadas por empresas e instituições públicas, em que se aponta o limite de idade de 35 anos como factor de ponderação, “uma limitação sem sentido e ilegal face à lei em vigor”. O segundo painel versou os “exemplos de boas práticas” nesta área, com casos testemunhados pela investigadora Manuela Richter, pelas directora e animadora intergeracional do Centro de Assistência à Terceira Idade e Infância de Sanguêdo, Madalena Malta e Marta Nunes, e pelo provedor da Santa Casa da Misericórdia de Campo Maior, João Carrilho.

Mostra Social

Nos dias seguintes, o pavilhão multiusos da vila acolheu a Mostra Social que integra este certame, na qual estiveram envolvidas mais de uma dezena de instituições que prestam serviços à população idosa do concelho, entre as quais as IPSS (Santa Casa da Misericórdia da Batalha, Centro Social e Cultural da Paróquia de São Mamede e Centro Paroquial de Assistência de Reguengo do Fetal), o Centro de Saúde da Batalha, o Centro Distrital de Segurança Social de Leiria, o INATEL, a GNR, os Bombeiros Voluntários da Batalha e a REAPN. A par desta mostra, foi elaborado um programa de animação dirigido à população sénior, a decorrer na localidade do Arrimal, com diversos momentos musicais e uma sessão de ginástica geriática. Também no pavilhão multiusos não faltou animação, esta feita pelos próprios utentes das IPSS e dos jardins-de-infância da Batalha, num verdadeiro exemplo de encontro de gerações. Foi igualmente apresentado ao público o programa “Novas Primaveras”, recentemente inserido na IPSS do Concelho, com orientação dos profissionais da Sociedade Artística e Musical dos Pousos.