Natália Faria, in Jornal Público
Carlos Lage acredita que oito mil milhões do QREN ajudarão ao "milagre económico", desde que o Estado deixe de submeter a região a uma "dieta anoréxica"
A Região Norte poderá repetir "o milagre económico" da Galiza e, a partir de 2009, acelerar o ritmo de crescimento até um valor acima da média nacional dos três por cento, segundo Carlos Lage, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte.
"Ultrapassado o choque que a globalização provocou nos sectores tradicionais, e com a injecção de fundos comunitários, a região tem obrigação de crescer acima da média do país. Caso contrário, é a região que falha", afirmou aquele responsável, prevendo que, lá mais para o final da década, a Região Norte possa crescer entre 3,5 a quatro por cento, repetindo assim o tal "milagre económico" que catapultou a Galiza.
Porém, para que tais previsões se concretizem, é preciso também que "o Estado cumpra o seu dever de não submeter a região a uma dieta anoréxica", avisou ainda Lage, que falava aos jornalistas no final da reunião inaugural da comissão de acompanhamento do Programa Operacional (PO) do Norte do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN).
Caberá a esta comissão - composta por 57 elementos representativos dos diferentes sectores de actividade, de associações patronais e sindicais a representantes da Educação, Saúde e Cultura - aprovar os critérios de selecção das candidaturas que, dentro de poucas semanas, começarão a poder ser apresentadas aos 2,7 mil milhões de euros que o PO Regional reserva para o Norte.
Lage reafirmou ontem a convicção de que o Norte poderá aceder a um total de oito mil milhões de euros, numa verba que soma os 2,7 mil milhões destinados à região a uma fatia dos recursos contidos noutros programas como os PO Factores de Competitividade e Potencial Humano. "Já não se trata de uma mera expectativa. Ao longo deste tempo, fomos pugnando para que se clarificasse a afectação dos fundos comunitários e os fundos destinados às regiões de convergência serão aplicados nas regiões de convergência", afiançou.
Quanto ao risco de um eventual desvio para Lisboa de verbas destinadas à Região Norte, a pretexto da sua aplicação em projectos de interesse nacional, o presidente da CCDRN secundou as preocupações recentemente manifestadas pel presidente da Junta Metropolitana do Porto. "Ainda bem que Rui Rio está preocupado com a questão do eventual desvirtuamento dos mecanismos do QREN. O que posso garantir é que estaremos atentos e vigilantes para que impedir que isso possa acontecer".
Confiante de que a Região Norte conseguirá, com a ajuda dos fundos comunitários, recuperar a dinâmica perdida, Carlos Lage voltou ao exemplo da Galiza para lembrar que um dos pressupostos fundamentais do processo é o avanço das regiões administrativas. "Em 2010, creio que haverá condições para fazermos um referendo nacional sobre a regionalização", declarou, dizendo-se convicto de que "uma liderança regional forte e com legitimidade eleitoral impulsionará o Norte até valores próximos da média europeia".
Presidida por Carlos Lage, a comissão directiva do PO-Norte do QREN tem mais quatro elementos. Entre os membros com funções executivas permanentes e remuneradas encontram-se Cristina Azevedo, vice-presidente da CCDRN, e Carlos Duarte, ex-secretário de Estado da Agricultura e ex-director regional de Agricultura do Entre Douro e Minho. Os membros não executivos são Mário Rui Silva, professor na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, e Carlos Taveira, ex-presidente da Câmara de Vinhais.