Pedro Sousa Tavares, in Diário de Notícias
No último relatório da OCDE sobre o desempenho dos alunos com 15 anos, a Finlândia atingiu (pela segunda vez) o primeiro lugar global, liderando nas Ciências e ocupando as segundas posições na Matemática e Conhecimento da língua materna. Na mesma listagem, Portugal ocupou, respectivamente, os 38.º, 31.º e 38.º lugares entre 57 países.
E as desigualdades entre os dois países vão muito além do que um relatório baseado numa prova, feita por alguns milhares de alunos, pode ajudar a pôr a nú.
No ensino básico, onde Portugal mantém uma taxa de reprovação ou desistência anual de 10%, correspondentes a 115 mil retenções, a Finlândia tem casos residuais. E enquanto apenas 6% dos finlandeses não prosseguem estudos (em cursos gerais ou profissionais) após a escolaridade obrigatória, só 49,6% dos portugueses com idades entre os 20 e os 24 anos (dados de 2006) têm o secundário completo e a taxa de retenção neste ciclo atinge os 24,6% anuais, correspondentes a mais de 80 mil alunos.
Uma escola inclusiva
O que distingue uma educação valorizada mundialmente pela sua "excelência" de um País que tenta recuperar de um crónico atraso em relação aos seus parceiros na União Europeia?
Os meios não chegam para explicar a diferença. Em termos de percentagem do PIB gasto na educação, existe uma diferença de meio ponto percentual, inflacionada pelo facto de o PIB finlandês ser bastante superior ao nacional, mas que ainda assim não envergonha Portugal na comparação com outros países da OCDE. E ao nível do vencimento, se um professor finlandês ganha mais sete mil euros do que um português no início da carreira, ao longo da vida profissional um docente nacional acaba por atingir 40 mil euros/ano, inacessíveis aos colegas nórdicos.
Poderia supôr-se um maior controlo da qualidade do trabalho docente. Mas a verdade é que a progressão na carreira baseada na avaliação dos professores, que tanta polémica tem causado em Portugal, ainda não chegou à Finlândia, onde os sucessos e fracassos costumam ser analisados, escola a escola, em reuniões.
E também não se pode falar em mais carga horária, já que os alunos do ensino básico portugueses passam bastante mais horas na escola do que os finlandeses - que vão para casa às três da tarde -, além de começarem a escola um ano mais cedo, aos seis anos, e terem mais disciplinas.
As maiores diferenças entre os modelos poderão assentar na filosofia educativa. Na Finlândia, o estudante pode passar todo o ensino obrigatório na mesma escola, já que há um único ciclo do básico. Os professores conhecem-no e intervêm precocemente quando há problemas. Em Portugal, a reprovação continua a ser a "solução" para muitos alunos com dificuldades, e é precisamente nas transições de ciclo que os números do insucesso se agravam.