17.2.09

Clandestinos afogam-se com as Canárias à vista

Hugo Coelho, in Diário de Notícias

Espanha. Já foram encontrados 19 mortos, entre os quais várias crianças

Seis 'sin papeles' do Norte de África sobreviveram com ajuda de surfistas


Quando Anibal Betancourt se aproximou restavam uns poucos sobreviventes a gritar por socorro, agarrados ao casco do barco que se afundava, e alguns cadáveres à tona da água.

O surfista uruguaio, entrevistado pelo El Pais, foi dos primeiros a chegar junto dos imigrantes ilegais, a maioria magrebinos, que caíram ao mar já com a ilha de Lanzarote, nas Canárias, à vista, quando o barco que os transportava se virou.

Betancourt e outros amigos ajudaram a salvar alguns dos seis sin papeles. Mas outros morreram afogados. Até ontem tinham sido retirados das águas 19 cadáveres, entre os quais várias crianças.

As equipas de salvamento prosseguiam as buscas por três desaparecidos. As autoridades espanholas não excluíam a hipótese de que esses tenham nadado até à costa e fugido.

Há relatos de que dezenas de habitantes da ilha ajudaram os poucos que chegavam perto das falésias lançando bóias e cordas.

Os sobreviventes foram hospitalizados com hipotermia depois de uma longa viagem desde Marrocos até àquele arquipélago espanhol no oceano Atlântico.

Este é mais um episódio trágico da história dos imigrantes clandestinos que se fazem ao mar em barcos rudimentares atrás do sonho de uma vida melhor na Europa.

Espanha - e o arquipélago das Canárias - é um das principais portas de entrada na UE de africanos ilegais. O reforço de vigilância no mar e os acordos de cooperação entre a UE e os países de origem, fizeram baixar o número de sin papeles nos últimos dois anos - em 2006 contaram-se 32 mil ilegais, enquanto em 2008, eram apenas nove mil. Mas, ao mesmo tempo, obrigaram os africanos a correr mais riscos.

Segundo a APDHA, uma organização de Direitos Humanos espanhola, em 2007 morreram 921 clandestinos a caminho de Espanha.