Ana Paula Lima, in Jornal de Notícias
Euro-região só teve crescimento idêntico entre 1998 e 2001
A convergência a nível de desenvolvimento da euro-região Galiza-Norte de Portugal, que tem usufruído de vários incentivos no âmbito da política regional comunitária, parece difícil. As diferenças de crescimento são muitas e estão a acentuar-se.
"Acredito na existência de vários clubes de convergência. O clube do Litoral, em que se inclui o Porto, Vigo, Pontevedra e a Corunha, e o das regiões do Interior, em que estão as restantes regiões do Norte de Portugal e de Lugo", refere a investigadora e docente universitária Elvira Pacheco Vieira, que estudou a euro-região entre 1995 e 2002.
Encontrar fases de crescimento parecidas entre as duas regiões onde habitam 6,4 milhões de pessoas foi impossível, mas segundo a investigadora é possível identificar "um período de convergência comum entre 1998 e 2001", a que se seguiu "um período de divergência regional a partir de 2001, o ano em que entrou em circulação o euro", destaca Elvira Vieira. A moeda única é, na análise da investigadora, um factor que indicia que "as regiões mais desenvolvidas conseguiram adaptar-se melhor à mudança do que as mais pobres".
A investigadora venceu a primeira edição do prémio de Investigação da Euroregião 2008, atribuído pela Cátedra da Euro-Região Galiza-Norte de Portugal, ao analisar semelhanças e assimetrias nas duas regiões e admite que o Norte de Portugal está em desvantagem face à Galiza. Mesmo assim consegue identificar parecenças no desenvolvimento da região do Grande Porto e da Corunha. "Nestas regiões encontro semelhanças em praticamente todos os indicadores. A nível das outras regiões já não existem semelhanças, mas sim assimetrias. No entanto, consegue-se visualizar, também, aspectos comuns entre as regiões de Lugo e de Trás-os-Montes", resume Elvira Vieira.
O principal problema do Norte de Portugal é o desequilíbrio acentuado que se verifica entre as varias regiões. "As NUTIII da Galiza têm um maior equilíbrio entre elas, existem diferenças entre as regiões, mas são homogéneas. No Norte de Portugal, há uma maior heterogeneidade. Se compararmos o Grande Porto com o Tâmega há diferenças em todas as variáveis que estudei: emprego, educação, PIB", refere.
O afastamento nesta euro-região é, ainda, evidente ao nível do emprego. "Em 2002 visualizava-se na Galiza uma taxa de desemprego de 10% e no Norte de Portugal de cerca de 4%. O que me preocupa é saber o que aconteceu entre 2002 e 2008 pois, actualmente, no Norte o desemprego ronda os 8% e na Galiza é menor".
Igualmente relevante é a mudança na estrutura económica. "O sector industrial continua a ser forte quando analisamos o Valor Acrescentado Bruto, mas na análise do emprego não é assim", refere, para salientar que desde 2002 o emprego na indústria diminuiu.
"O emprego cai cada vez mais na indústria e está a passar para o sector terciário. Em Portugal, isto pode explicar-se com o desaparecimento de emprego no têxtil, mas na Galiza não é tão evidente, e terá a ver com a automatização das empresas industriais", diz.
Nos últimos anos o decréscimo da produtividade foi comum às duas regiões. Mas, em Portugal, "a queda foi de 2,2% e na Galiza apenas de 0,9%", diz Elvira Vieira.