Rita Jordão, in Jornal de Notícias
20 trabalhadores abandonaram refinaria de Lindsey,no Nordeste de Inglaterra, mas 18 mantêm-se no local
Embaixador português no Reino Unido fala de "ambiente tenso", mas garante que os operários portugueses em Lindsey estão "em segurança". Manifestações de ingleses contra os seus concorrentes europeus alastram no país.
Mais de metade dos portugueses contratados para a trabalharem na refinaria da Total, em Inglaterra, já regressaram a Portugal. No total, eram 38 os portugueses que se encontravam em Lincolnshire, no Nordeste inglês, e que se viram no centro de uma polémica que está a gerar a revolta dos trabalhadores britânicos um pouco por todo o país. Os ingleses reclamam postos de trabalho que foram oferecidos a portugueses e italianos contratados pela construtora italiana IREM e contestam as leis de trabalho europeias que permitem o que chamam de "discriminação" de trabalhadores britânicos.
Com 18 trabalhadores portugueses ainda em Lindsey, Lincolnshire - estão instalados num hotel e num barco-hotel -, o embaixador português no Reino Unido confirma que o ambiente é de "tensão" . António Santana Carlos garantiu que os 18 trabalhadores portugueses que permanecem em Lindsey "estão em segurança" e que os outros "partiram voluntariamente". O diplomata não considerou necessário uma maior protecção dos portugueses.
Entretanto, a onda de tensão é crescente. Ontem, mais de 900 pessoas manifestaram-se em frente à refinaria num novo protesto que se alastrou um pouco por toda a Inglaterra, Escócia e País de Gales, onde centenas de trabalhadores levaram a cabo greves de contestação contra os trabalhadores não-britânicos.
As manifestações foram, no entanto, condenadas pelos governos de Portugal e do Reino Unido, que defenderam o direito dos trabalhadores migrantes de países da União Europeia. O primeiro ministro britânico, Gordon Brown, defendeu a empresa no centro da polémica. "A Total disse que os trabalhadores britânicos são livres de se candidatarem aos empregos quando estes forem anunciados e serão aceites consoante os seus méritos. Acredito que todas as empresas neste país façam o mesmo. Quando isso ficar claro as pessoas vão perceber que não há discriminação contra os britânicos no Reino Unido", disse.
Em Portugal, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, defendendo as leis de trabalho da UE, disse ser "inaceitável" esta discriminação (ver outro texto).
Ontem, em comunicado à imprensa, a Total defendeu que o processo de recrutamento e de atribuição de projectos a empresas subcontratadas é "justo e segue todas as regras domésticas do Reino Unido bem como as regras estipuladas pela União Europeia". A empresa garantiu ainda que os salários pagos são equivalentes aos que seriam atribuídos a trabalhadores britânicos, ao contrário do que dizem sindicatos e grupos de trabalhadores na região.
Enquanto isso, as negociações entre sindicatos, dirigentes da Total e mediadores vão continuar hoje.
Portugal considera inaceitável a discriminação
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Luís Amado, considerou inaceitável qualquer tentativa de discriminação de trabalhadores, portugueses ou não, e sustentou que quaisquer dificuldades laborais têm de ser resolvidas no quadro legal. "Essa tentativa de discriminação é absolutamente inaceitável", disse Luís Amado.
O ministro disse que o Governo está a acompanhar a situação no Reino Unido - onde se têm registado protestos contra a contratação de trabalhadores estrangeiros, sobretudo portugueses e italianos - através da Secretaria de Estado das Comunidades e da Embaixada de Portugal em Londres e que recebeu "garantias de que não haverá qualquer discriminação" e de que o quadro legal será respeitado.