Vítor Costa, in Jornal Público
Universidade Católica prevê um recuo do PIB de 3,2 por cento em 2009 e o desemprego
nos 8,2 por cento já no final do primeiro trimestre
São as previsões mais pessimistas conhecidas até agora, mas cumprem a regra que tem sido seguida nos últimos meses. A cada nova previsão, o resultado aponta para uma situação mais negra da realidade. Ontem foi a vez da Universidade Católica rever em forte baixa as suas previsões para a economia portuguesa, apontando, agora, para um recuo de 3,2 por cento em 2009.
A confirmarem-se estes números, será o pior desempenho da economia portuguesa desde 1975, ano em que Portugal recuou 4,3 por cento, a que se soma ainda o facto de em 2010 a economia nacional continuar a recuar, mas apenas de 0,5 por cento, embora, aqui, a própria instituição admita o elevado grau de incerteza da previsão.
As estimativas apresentadas pelo Núcleo de Estudos de Conjuntura da Universidade Católica (NECEP) assentam em informação recolhida até ao passado dia 7 e vêem confirmar uma forte deterioração da actividade económica face às últimas previsões conhecidas quer do Governo, quer do Banco de Portugal, com ambas as instituições a apontarem para recuos do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo de 1 por cento. Ainda assim, já esta semana, o governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, admitiu que a contracção deverá superar os valores da recessão de 1993, ano em que a economia recuou dois por cento.
As estimativas da Católica acabam, no entanto, por não surpreender e por não se revelar pessimistas. Não surpreendem face ao que se passa um pouco por todo o mundo e pela zona euro em particular. Ainda esta semana, o Governo irlandês veio admitir que a sua economia deverá registar uma contracção de oito por cento, deixando para o passado os anos em que a Irlanda era reconhecida como o "Tigre Celta", dada a pujança da sua economia.
Não se podem considerar pessimistas quando se olha para as previsões mais recentes, por exemplo, da Organização para a Cooperação e para o Desenvolvimento Económico (OCDE). Segundo esta instituição, a zona euro deverá registar uma contracção da economia em 2009 de 4,1 por cento. Se Portugal recuar 3,2 por cento, terá, ainda assim, um desempenho menos negativo do que os seus parceiros do euro, algo que não tem acontecido ao longo dos últimos anos.
E é precisamente com base na situação económica internacional, que a Católica assenta a sua estimativa. "Para 2009, o NECEP projecta um crescimento do PIB de -3,2 por cento, reflectindo sobretudo o impacto adverso da conjuntura externa nas exportações e no investimento". E mesmo a desaceleração da inflação e das taxas de juro, com a ajuda que irão dar às famílias, não deverão ser suficientes para induzir um estímulo significativo no consumo privado. "O consumo privado poderá beneficiar de alguns factores de suporte (...) contudo, estes factores deverão ser insuficientes para evitar uma quebra pronunciada do consumo, caso se confirme o agravamento da situação no mercado de trabalho", salienta a Católica.
Com base nesta análise, a nota trimestral distribuída pela universidade aponta assim para que, já no primeiro trimestre, a economia apresente um recuo de 3,2 por cento face ao primeiro trimestre de 2008 e para um recuo de 1,7 por cento face ao último trimestre do ano passado. Mais uma vez, se estes valores se confirmarem, a Católica aponta para que a taxa de desemprego salte dos 7,4 por cento registados no último trimestre do ano passado para os 8,4 por cento nos primeiros três meses de 2009.
E nem mesmo as medidas que têm sido anunciadas pelo Governo como sendo de ajuda à actividade económica deverão ter grande impacto na economia. Segundo a Católica, estas medidas "deverão ter pouco impacto (...), até porque os dados já conhecidos da execução orçamental de 2009 sugerem que as contas públicas apresentam uma derrapagem importante, devendo estar sob enorme pressão este ano".