3.4.09

Os futuros debates do grupo das grandes economias

por L.N., in Diário de Notícias

Pobreza, clima e possível moeda internacional serão as questões do futuro, caso o G20 ganhe influência


O mundo está mais complexo e enfrenta questões que exigem uma abordagem multilateral. Esta é, provavelmente, a grande lição desta cimeira. O G20 representa mais de 80% da economia mundial e dois terços da população do planeta.

As maiores críticas ao G20 vieram de activistas contra a pobreza mundial, mas o tema foi referido por sindicalistas, economistas e políticos. David Cameron, chefe da oposição britânica, lamentou que não se tivesse ido mais longe na recuperação do ciclo de Doha de liberalização do comércio mundial, cujo calendário não foi sequer referido pelos líderes da cimeira.

Na opinião do dirigente conservador, recomeçar a negociação teria beneficiado os países mais pobres.

No futuro, caso o grupo das 20 economias ganhe relevância política, é natural que o tema da pobreza e da ajuda ao desenvolvimento seja cada vez mais referido. No caso de Londres, o assunto foi levantado pelo dirigente etíope, Meles Zenawi, cuja presença na cimeira foi aliás contestada por manifestantes pró-direitos humanos. Segundo Zenawi, alguns dos países mais pobres de África "podem afundar-se e isso vai significar caos total e violência". Um vizinho da Etiópia, a Somália, está numa situação de colapso. A pobreza extrema das nações é um dos temas que faz sentido combater a nível multilateral e o G20 poderá ser um fórum adequado para este debate.

Outro destes temas globais é o aquecimento global. Segundo o argumento dos europeus, as mudanças de clima não podem ser combatidas sem uma abordagem colectiva. É exactamente como no caso do sistema financeiro internacional, em que um mau banco num país pode infectar bons bancos no país ao lado.

Neste caso, a produção de gases com efeito de estufa num país afectará os restantes de forma imprevisível.

O tema do aquecimento global não foi discutido em Londres, pelo menos a nível formal, mas estará provavelmente em futuras discussões.

O ministro alemão do ambiente, Sigmar Gabriel, defendeu ontem uma cimeira do G20 exclusivamente dedicada a debater a questão.

Europeus e americanos estarão provavelmente muito próximos neste objectivo, após as mudanças na Casa Branca. Barack Obama dá grande importância ao tema.

Tal como aconteceu nesta crise financeira, a questão das mudanças climáticas não pode ser resolvida no âmbito do G8, onde não participam a China, Índia ou Brasil. Mas o simples alargamento a estes três gigantes também não seria suficiente, pois é necessário envolver nas soluções outros países em desenvolvimento, como Indonésia, por exemplo, e produtores de energia, como a Arábia Saudita.

Desta cimeira resulta uma alteração de poder relativo, pelo menos no sector das finanças internacionais, mas algumas potências foram a Londres tentar obter alguns ganhos adicionais. China e Rússia defenderam a criação de uma moeda de reserva internacional. Seria uma espécie de regresso aos tempos do padrão-ouro. Segundo o que foi defendido por Pequim e Moscovo, a base da futura moeda de reserva seria feita por várias moedas regionais.

A ideia não parece agrada aos dois principais blocos, os EUA e a União Europeia, cada um deles possuindo uma moeda estável, muito usada no comércio mundial, sobretudo o dólar americano. O sistema dá vantagens claras aos Estados Unidos e pode dizer-se que foi uma das razões da actual crise.

Nas futuras reuniões multilaterais, caso o G20 se torne mais importante, é provável que surjam novos pedidos para colocar este tema na agenda.