Rudolfo Rebêlo, in Diário de Notícias
A riqueza do país vai diminuir 3,5% em 2009, com exportações e investimento a afundarem mais de 14%. "É o pior ano das últimas décadas", reconhece Teixeira dos Santos. A retoma, demorada, só será mais significativa em 2011.
É o cenário mais negro desde 1975. A riqueza do país (PIB) vai encolher 3,5% em 2009, devido ao colapso do investimento e das exportações; e as famílias, preocupadas com o desemprego galopante, vão optar por poupar, cortando no consumo, até agora o motor do crescimento, anunciou ontem Vítor Constâncio. "Será o pior ano que teremos nestas últimas décadas", admitiu Teixeira dos Santos, ministro das Finanças, duas horas após o Banco de Portugal rever as suas previsões. Mas para já não vão ser tomadas novas medidas; as grandes obras já anunciadas são uma das apostas.
O que fez adensar a crise? A recessão é explicada essencialmente pela queda das exportações e do investimento", afirma Constâncio. "O crescimento e o comércio mundial afundaram rapidamente no final do ano passado e no primeiro trimestre deste ano", lembrou o governador ao apresentar o boletim da Primavera.
Os dados estão lançados. Para este ano, os técnicos do banco central antevêem uma queda de 14,2% nas vendas ao estrangeiro - só nos últimos três meses terminados em Janeiro a descida foi de 19,4%, de acordo com dados do INE. Esta quebra na facturação dos exportadores é explicada por uma forte diminuição (-13%) das encomendas vindas do estrangeiro, em resultado da forte contracção nos principais parceiros comerciais de Portugal, sobretudo Espanha e Alemanha.
O investimento deverá recuar 14,4%, depois de em 2008 ter baixado 1,7%. Mas a economia também "encolhe" porque as famílias , assustadas com o desemprego (ver caixa) e com o ambiente pessimista vão optar por poupar, apesar de auferirem ganhos reais de 2% no rendimento disponível - os salários e rendas, descontados de impostos. É que, por efeito da baixa do barril de petróleo e da fraca procura por produtos, a inflação média cai 0,2% em 2009. Ou seja, mesmo os que não beneficiaram com actualizações salariais terão aumento do poder de compra.
O dinheiro vai para depósitos nos bancos. A taxa de poupança passa dos 6,2% para os 9% dos rendimentos, o que, em conjunto com o aumento do desemprego, vai resultar numa redução de 0,9% no consumo, até agora uma das molas do crescimento.
A retoma só chegará depois da recuperação da Zona Euro. "Será demorada e mais significativa em 2011", avisa Constâncio.
É um cenário bem mais degradado do que se esperava há dois ou três meses", diz Teixeira dos Santos, "referindo-se ao Orçamento rectificativo de Janeiro último, quando o Executivo previu uma queda de 0,8% da economia. Mas haverá nova proposta orçamental? "Em momento oportuno, o Governo dirá o que vai fazer", respondeu, lacónico.
O ministro das Finanças garantiu, no entanto, que o Governo tudo fará para amenizar o impacte da crise. "Neste momento, o importante é prosseguir com as medidas e estar atento às questões sociais", afirmou . "Esperemos que 2010 traga melhor ambiente económico" .
Até lá, "o Governo estará empenhado em prosseguir as medidas já anunciadas", referiu Teixeira dos Santos. "Ao Governo é exigido um reforço orçamental acrescido" em "compensação" à falta "do investimento privado".
Incluindo os grandes projectos de obras públicas? "Todos eles. É cegueira considerar que esses investimentos não estão na ordem do dia", diz o ministro.
Ficou um último alerta de Constâncio: o Governo deve calendarizar as medidas orçamentais temporárias de ajuda para limitar o agravamento do défice nos próximos anos.