por Rudolfo Rebêlo, in Diário de Notícias
Os preços na Zona Euro caíram 0,1% em Junho, em relação a igual mês do ano passado. Crise económica aumenta o desemprego e leva a quebras no consumo das famílias. Procura de produtos alimentares e dos combustíveis baixaram, o que produz um esmagamento dos preços. Mas a inflação vai aumentar na recta final do ano, à medida que a economia recuperar
Pela primeira vez em 50 anos, os preços caíram junto dos consumidores dos 16 países da Zona Euro. Uma primeira estimativa rápida, ontem avançada pela Comissão Europeia, calcula que os preços desceram 0,1% em Junho, em comparação com o mesmo mês do ano passado.
O que aconteceu? Os economistas já esperavam uma queda dos preços, "algures" nesta época do ano. É que, no segundo trimestre de 2008, os preços das matérias-primas alimentares e da fileira energética sofreram um forte disparo - provocado então pela forte procura e pela especulação - elevando os preços dos produtos à saída das fábricas.
Este ano, contudo, está a suceder o contrário: com a crise económica, a procura - promovida pelas fábricas e famílias - caiu e os preços das commodities alimentares e energéticas baixaram, dando origem ao que os economistas apelidam de "efeito base" na inflação.
Por exemplo, o preço do trigo, nos mercados internacionais, caiu 42% em Junho deste ano, por comparação com o mesmo mês do ano passado. A cotação do milho, outra matéria-prima com efeitos imediatos nos preços da alimentação, desceu 49% nos mercados internacionais. A excepção foi o açúcar - cujo valor aumentou quase 40% - mas os dados relativos ao andamento dos preços dos combustíveis refinados de Amesterdão são ainda reveladores.
A queda dos preços, dizem os economistas, está relacionada com a quebra da actividade económica. A Zona Euro está em "recessão profunda", segundo recente diagnóstico da OCDE. As exportações dos 16 países estão em colapso e a procura interna - o consumo das famílias e o investimento - é fustigada pelo aumento do desemprego.
Bruxelas calcula que o consumo das famílias, em bens alimentares e duradouros, deverá recuar 0,9% este ano em relação ao ano transacto. E, em 2010, deverá regredir 0,3%, o que leva a oferta a ajustar preços em baixa.
Os últimos dados sobre o consumo das famílias alemãs, referentes a Maio, indicam pouca apetência para o consumo. O mesmo acontece para os gastos dos franceses, que diminuíram 1,6%, em relação ao mesmo mês do ano passado. As vendas dos comerciantes em Itália - a terceira maior economia da Zona Euro - caíram 0,6% em Maio, face ao mesmo mês de 2008.
Os preços, à semelhança do que sucede em Junho, deverão continuar a cair nos próximos meses. No entanto, a Comissão Europeia estima um aumento de 0,4% na inflação anual. Isto porque, alegam os economistas, os preços deverão aumentar no quarto trimestre do ano, à medida que o chamado "efeito base" - provocado pelo aumento das cotações no ano passado - desaparecer.
O aumento da inflação na recta final do ano deverá manter-se em números relativamente baixos, "em resultado das fracas perspectivas do crescimento económico". Assim, com a economia da área euro a recuar 0,1% - este ano deverá contrair 4% em comparação com 2008 -, a Comissão Europeia prevê para 2010 que a inflação anual aumente 1,2% relativamente a este ano.