Por João Ramos de Almeida, in Jornal Público
Presidente do IEFP alerta que só "crescimento sustentado" reduzirá o desemprego . Mas o número de ofertas de emprego caiu
Continuam a chegar cada vez mais desempregados aos centros de emprego do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Segundo os dados ontem divulgados, em Outubro foram mais 65 mil pessoas, um dos valores mais altos de sempre, semelhante ao dos primeiros meses da crise económica.
Apesar de os centros de emprego terem anulado em Outubro passado a inscrição a 52 mil desempregados, no final desse mês havia 517.526 desempregados registados. Ou seja, mais 29,1 por cento do que no mesmo mês de 2008 e mais 1,4 por cento face a Setembro de 2009.
Os últimos meses têm sido dramáticos. A inscrição de novos desempregados nos centros de emprego dá uma ideia da evolução recente do mercado de trabalho. Depois de uma subida abrupta, em que entraram 173 mil novos desempregados só no último trimestre de 2008 e mais 196 mil no primeiro trimestre de 2009, o ritmo de entradas pareceu ter abrandado no segundo trimestre. Foram mais 166 mil pessoas. Mas no terceiro trimestre voltou a acelerar - mais 183 mil novas pessoas. E em Outubro mais 65 mil.
A procura de um novo emprego continua a concentrar o grosso das intenções dos desempregados inscritos. São 90 por cento do total e o seu número cresce a um ritmo de 30 por cento. Mas acentua-se uma subida do número de jovens que procuram o primeiro emprego. Desde Março passado, o crescimento tem sido constante. Eram 36 mil nessa altura e, em Outubro passado, abrangia já 43 mil pessoas, ou seja, mais 13 por cento do que no mesmo mês de 2008.
Os mais optimistas concluirão que os jovens, afastados do mercado de trabalho pela crise, estarão a regressar aos primeiros sinais de retoma. Mas os números passados não permitem uma leitura única. Durante a recessão de 1993, verificou-se uma subida de inscrições de jovens em 1994 quando a economia despontava. Mas na crise de 2003, houve uma subida de inscrições de jovens desempregados precisamente em 2002, antes do momento mais agudo da recessão, em 2003.
Por ramos de actividade, os número de Outubro mostram - pela primeira vez - pequenos abrandamentos na subida do desemprego. Até Setembro passado, as subidas homólogas eram contínuas. Os números cada vez maiores. Em Outubro passado, houve pequenas reduções nas elevadas taxas de crescimento do desemprego na agricultura e na indústria, por contraste nos serviços, onde a escalada continua. Esse abrandamento verificou-se na construção e na actividade imobiliária, no vestuário, couro, actividade petrolífera, metalomecâmica e sector automóvel. Mas é ainda cedo para retirar conclusões.
Seis mil empregados
O presidente do IEFP está, porém, confiante. "O aumento das ofertas de emprego mostram que a economia está a recuperar", disse Francisco Madelino à Lusa. Na realidade, os centros de emprego registaram 11.161 ofertas de emprego ao longo de Outubro, um valor mensal semelhante ao verificado desde Maio passado e, sim, inferior ao de há um ano (menos 8,6 por cento). Apesar de o desemprego estar a crescer a ritmos elevados, o IEFP arranjou emprego a apenas seis mil pessoas (menos 11 por cento do que no mesmo mês de 2008).
Madelino considera os números preocupantes, mas salienta que o desemprego em Portugal segue a tendência internacional. "Só quando o crescimento da economia for sustentado (...) a situação do desemprego será invertida", explica. Mas de Maio a Agosto passado, a versão oficial era mais optimista. Em Maio, Francisco Madelino afirmou que já se viam "os primeiros sinais" da recuperação do mercado de trabalho - a variação mensal do número dos desempregados caíra 0,5 por cento. Mas, desde Junho passado, as variações mensais têm sido positivas.
Durante o Verão, frisava-se que a economia recuperava o emprego. Em Agosto, o próprio ministro do Trabalho não acreditava numa taxa de desemprego de dois dígitos. Agora, o primeiro-ministro já a espera para 2010.