por Susana Salvador, in Diário de Notícias
Os encontros pessoais entre os líderes ibero-americanos criam familiaridade e são uma oportunidade para distender as tensões regionais. Além disso, permitem discutir os problemas gerais da comunidade e apostar no futuro.
Que as cimeiras ibero-americanas não servem para nada, só para os presidentes viajarem e tirarem uma foto de família, é uma das críticas que costumam ouvir-se nestas ocasiões. Mas os ex-chefes de Estado que fizeram parte destes encontros ou os jornalistas que os têm seguido dizem que para lá da foto há uma familiaridade que se vai ganhando e projectos que se vão empreendendo.
"Eu participei nas três primeiras cimeiras ibero-americanas", contou o ex-presidente da Bolívia Jaime Paz Zamora. "Na altura não havia nenhum lugar onde nos encontrássemos e só isso já é importante", revela. "O facto de se reunirem fisicamente, de conversarem, é positivo. Porque nada substitui o contacto pessoal, que está cheio de consequências políticas", refere o secretário-geral da Associação de Jornalistas Europeus, o espanhol Miguel Angél Aguilar.
O escritor peruano Santiago Roncagliolo admite que as cimeiras "podem servir para as primeiras-damas fazerem compras numa cidade diferente", mas lembra também que "servem para alargar laços comerciais, para fazer circular as ideias políticas e para resolver conflitos." Na sua opinião, se o encontro do Estoril servisse para ajudar a resolver a crise nas Honduras, "já serviria para muito".
O ex-presidente português Mário Soares referiu também que estas cimeiras têm ajudado à aproximação entre os países. "Este ano vai ser particularmente importante dado o estado da Europa e o da América Latina", acrescentando que era bom que se abordassem temas como a tensão entre Colômbia e a Venezuela, "para ajudar a encontrar uma solução pacífica". Soares apontou também como positivo o empurrão que os líderes esperam dar num eventual acordo entre União Europeia e Mercosul.
Paz Zamora lembrou que no passado "já se tomaram iniciativas concretas de grande importância", como o fundo de desenvolvimento dos povos indígenas. Este ano, o ex-presidente peruano Alejandro Toledo vai apresentar uma agenda social, que espera possa ter impacto. "De ano para ano, as cimeiras ganham mais conteúdo, tornando-se mais num fórum para discutir os problemas da América Latina e menos um encontro protocolar", afirmou, aplaudindo o tema deste ano: Inovação e Conhecimento. "É preciso começar agora, apesar dos resultados serem apenas a longo prazo."
O colunista do jornal Folha de São Paulo Clóvis Rossi reconhece que "o Brasil não dá muita importância a este tipo de cimeiras, porque prefere as relações bilaterais. Este formato é excessivamente desigual". Ainda assim, acredita que os encontros "representam um esforço de entender a problemática geral da América Latina, tendo sempre em conta que cada país é diferente de outro".