in Expresso
A campanha do Banco Alimentar Contra a Fome arranca este sábado e, o distrito de Setúbal, vê-se a braços com mais pedidos de apoio e falta de voluntários para acorrer a esta emergência social. Almada é o concelho com mais pedidos de ajuda.
A falta de voluntários tem sido uma das dificuldades do Banco Alimentar.
O aumento do desemprego fez disparar os pedidos de ajuda para combater a fome nos concelhos mais urbanos do distrito. É na margem sul que as situações de pobreza se acumulam, com Almada, Seixal, Setúbal e Moita no topo da lista, revela ao Semmais Jornal o presidente do Banco Alimentar Contra a Fome da Península de Setúbal, António Alves.
Os números que apontam um total de 25.262 pessoas ajudadas pelo BA, em 2008, sendo a maioria dos concelhos mais urbanos, evidenciam o aumento da degradação da situação social na região preconizada pelo Bispo de Setúbal.
No início deste ano, D. Gilberto Canavarro dos Reis manifestava-se preocupado com o "aumento da pobreza" no distrito, nomeadamente "o fenómeno da pobreza envergonhada", provocada pela perda de empregos entre os trabalhadores da classe média.
Agora, às portas de mais uma campanha de combate à fome, o BA lança o apelo à dádiva e ao voluntariado tendo em conta que os pedidos de ajuda para este ano voltaram a disparar. "Já auxiliamos 137 instituições e temos outras 33 em lista de espera", revela António Alves, para quem se torna urgente mobilizar parcerias e vontades entre a sociedade civil de modo a assegurar a todos "o direito à alimentação".
E é de novo nos concelhos de Almada (onde o BA ajudou no ano passado 4.031 pessoas), de Setúbal (onde foram auxiliadas 3.471), do Seixal (onde a fome atingiu 3.226) e na Moita (cuja ajuda contemplou 2.807 pessoas), que este ano se concentram mais pedidos de apoio alimentar.
O fenómeno repete-se, embora com menor intensidade, por todo o distrito, de tal modo que o presidente do Banco Alimentar Contra a Fome apela ao voluntariado em massa.
O Banco trabalha diariamente apenas com cerca de quarenta voluntários, para a recolha e escoamento dos produtos alimentares oferecidos pela União Europeia, produzidos pelos reclusos das cadeias de Setúbal e de Pinheiro da Cruz, e pelos excedentários das grandes superfícies comerciais da região e, embora necessite de mais ajuda todos os dias do ano, é nas campanhas à porta dos hipermercados que a falta de voluntários aperta.
Solidariedade precisa de mais "mil pares de mãos"
"Quantos mais voluntários tivermos mais superfícies comerciais abrangemos e isso traz-nos mais alimentos. Se isso não acontecer, ficamos sem possibilidade de ir para muitas superfícies comerciais e, claro, isso faz com que se recolha menos alimentos", explica António Alves. Nas campanhas mais mediáticas, "todos os anos contamos com uma média de dois mil voluntários mas para suprir as necessidades que nos chegam precisávamos de mais cerca de mil pares de mãos", revela, crente de que a campanha de 28 e 29 de Novembro poderá "superar" a de 2008, que só por si constituiu um recorde de recolha de alimentos, na região.
Embora as entidades com intervenção social na região admitam que a situação tem vindo a degradar-se ao longo dos últimos três anos, rejeitam que a crise se assemelhe à vivida no distrito na década de 80. Eugénio Fonseca, presidente da Caritas Portuguesa, recorda que, embora a pobreza tenha vindo a aumentar, o fenómeno não ocorre "na proporção" dos anos 80. Em entrevista ao Semmais Jornal, no início deste ano, Eugénio Fonseca garantia que "não somos ainda o distrito da fome, que era o rótulo que tínhamos nessa década", mas admitia a existência de "muitas famílias a viver esses problemas".
Certo é que os casos de pobreza e fome têm vindo a acumular-se ao longo dos últimos três anos, altura em que a presidente nacional do BA, lançou o primeiro alerta. Em Outubro de 2007, Isabel Jonet veio a público alertar para uma situação que estava a "ficar insustentável para milhares de portugueses" que, mesmo com emprego e salário, "não conseguem assegurar" as necessidades básicas. Uma posição sustentada, também por Sérgio Aires, director do Observatório de Luta Contra a Pobreza, para quem "a estatística não oficial" revela números ainda mais preocupantes, uma vez que "inclui pessoas que passam por dificuldades mas têm vergonha de o mostrar".
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