Nuno Passos, in Jornal de Notícias
Há cada vez mais mulheres junto às bermas das estradas nacionais, porque "mercado" de casas de massagens está esgotado. Brasileiras e estudantes são cada vez em maior número.
A prostituição em Braga continua a sair das ruas, bares e casas de alterne para os domicílios. Apartamentos de prédios e bairros novos de S. Vítor, Gualtar, Lamaçães e Maximinos são os mais atingidos pelo flagelo, sendo arrendados um ou dois meses para duas a seis mulheres, cujos "intermediários" as leva, depois, a saltar para outros quartos da cidade ou da Península Ibérica, despistando as autoridades.
Os vizinhos sentem-se prejudicados na sua esfera individual, integridade e alvo de atentado ao pudor, sobretudo os mais novos, e acumulam por ano algumas dezenas de queixas e até abaixo-assinados na PSP, GNR e Governo Civil de Braga.
As forças da ordem não divulgam números de um fenómeno oscilante, mas confirmam que cresceu em fase de crise. Tal levou à "clara queda" do preço dos serviços aos clientes, reincidentes e vindos da classe alta e baixa, nomeadamente empresários e jovens da construção civil. A venda do corpo pode custar "só 10 euros" e é praticada na maioria por sul-americanas. O Leste europeu e Portugal, com adultas acima de 35 anos e universitárias de Braga, Guimarães, Famalicão e Barcelos, também estão na oferta. A prostituição masculina é "residual, mas ligeiramente crescente". Os jornais são uma montra de divulgação, com a secção "relax" a ter, por vezes, algumas dezenas de anúncios.
Os arrendamentos são pedidos, em geral, a imobiliárias, intermediárias do dono do apartamento, que desconhece o negócio. O aluguer é às vezes "mais do dobro do praticado", disse o ex-subintendente da PSP de Braga, Henriques Almeida. Há quem adquira o apartamento "para lavagem de dinheiro, actos ilícitos e pouso temporário de circulação de grupos de pessoas".
O governador civil, Fernando Moniz, referiu há meses à imprensa que "em Braga há mais brasileiras do que em Bragança na prostituição ao domicílio".
No que toca a bares de alterne, os pedidos de licenciamento têm estabilizado. Recentemente, havia "três casos detectados" e a caminho do tribunal. A situação "é, infelizmente, difícil de controlar", pois os alegados empresários com processos pendentes "são, em geral, sempre os mesmos, dão-se bem e entreajudam-se nas fugas", voltam a abrir novo bar, com gerência igual e clientes diferentes.
À luz da lei, favores sexuais a troco de dinheiro não são crime; só quando provada a sua exploração por um proxeneta é lenocínio. A PJ actua quando há tráfico de pessoas, ofensas corporais, sequestro ou falsificação de documentos, notou Dantas Mendes que, no último ano, não detectou casos do género. Henriques de Almeida e o tenente-coronel Barros Gonçalves, do grupo territorial da GNR, disseram também não ter identificado casos no concelho.
A tal não é alheia a necessidade de provar que prestadoras (es) de serviço se prostituem contra a sua vontade e coagidas (os) por alguém, que vive à sua custa.
Se no inquérito se assume, em julgamento é raro repetir-se acusações, por as alegadas "pessoas da vida" estarem ilegais, recearem prejudicar o negócio e perderem estatuto financeiro. "Não basta chegar ao local e tirar a fotografia. Grande parte está neste modo de vida porque quer. É como toxicodependência, quer sair e não consegue, perderá capital para comprar bens materiais como vestir e pentear", vincou Henriques Almeida.
De facto, a prostituição mais do que duplicou nas últimas semanas nas bermas da EN103, que liga Viana do Castelo a Barcelos, nomeadamente com cidadãs brasileiras entre 18 e 40 anos, que em fase de crise reagem assim à saturação do mercado nas cidades, apostando na forma mais selvagem e arriscada da primeira profissão no mundo. Um presidente de Junta pediu intervenção da GNR, que disse estar "atenta" e quer "apertar a fiscalização".
Antes confinado à recta de Palme e Feitos, o fenómeno prolonga-se desde a zona industrial de Castelo do Neiva, junto à A28, até Vilar do Monte, às portas de Barcelos. Ao fim-de-semana, é possível ver em simultâneo cinco ou mais mulheres de mini-saia.
"A concorrência é apertada. É complicado ganhar a vida e temos que nos sujeitar, em Viana já não rendia", frisou a morena "Diana", 26 anos. O atendimento é consumado no extenso mato circundante ou no veículo do cliente, parado num dos trilhos florestais.
A localização das prostitutas está frequentemente ligada às seculares diligências entre as cidades, como sucede na EN14, em Priscos, Braga, onde paravam caravanas de viajantes e mercadores entre o Porto e a capital minhota, segundo um estudo de José Manuel Lages, da Universidade do Minho.
O aumento do número de prostitutas fez baixar o preço dos serviços na cidade de Braga. Os clientes, dizem elas, são reincidentes e da classe alta e baixa. Mas em Barcelos a venda do corpo voltou à rua com a saturação do mercado de massagens e "relax".