Lucília Tiago, in Jornal de Notícias
Gastos no supermercado aumentaram ligeiramente mas não para todos
Vistos no seu todo, os portugueses estão mais racionais nas compras, ainda que levem mais produtos para casa e estejam a gastar um pouco mais em 2009. Mas há 850 mil lares onde se cortou na conta do supermercado.
A crise - real ou temida - está a reflectir-se de forma diferente nos hábitos de consumo das famílias. E há uma expressiva percentagem de portugueses (22% ou 2,7 milhões) que dizem não ter rendimento suficiente para fazer face a todas as despesas mensais. A alternativa tem sido cortar nas compras do supermercado - cujos gastos diminuíram este ano 3,1% face a 2008, segundo conclui um estudo da TNS Worldpanel.
Para estas famílias, a procura pelo preço mais baixo tornou-se o factor mais importante, mesmo que isso implique deixar de lado as lojas habituais ou favoritas. Apesar da contenção a que a crise os obriga, procuram, ainda assim, "mimar-se". É isso que explica que tenham cortado em 1,8% as despesas com alimentação e em 4,9% os gastos com produtos de limpeza caseira, mas ao mesmo tempo tenham reforçado em 3% os gastos com produtos de higiene pessoal. O facto de não sobrar dinheiro para ir jantar fora, faz com comprem também mais sobremesas ou apostem nos molhos.
Se se tiver em conta o perfil geral do consumidor português ao longo dos três primeiros trimestre de 2009, constata-se que há uma maior contenção nas compras e que se sai menos vezes de casa para as fazer, ainda que de cada vez que se vai ao supermercado se tragam mais bens (2,8%) e se gaste um pouco mais (0,3%) do que em 2008.
Voltando ao pormenor dos vários grupos de consumidores, conclui-se que metade dos portugueses tem um rendimento acima da média - não reportando, por isso, aquela sensação de "sobrar mês" para tão pouco dinheiro - mas que, mesmo assim, diz "sentir" a crise e estar a cortar em algumas despesas. Tudo isto leva o director de Comunicação da TNS referir que "o impacto nos hábitos de consumo foi mais induzido pelo ambiente social do que pela situação financeira efectiva das pessoas" e que um dos desafios de 2010 "passa pela reconstrução da confiança dos consumidores". Paulo caldeira ressalva não ser ainda possível afirmar se esta ligeira recuperação no consumo é sustentável, porque em 2009 os portugueses estão a beneficiar de taxas de juro baixas e de inflação negativa.
Mas nem só de compras de supermercado vivem as famílias. Os combustíveis fazem também parte do dia-a-dia e os resultados mostram que está a diminuir o número dos que vão a Espanha atestar do depósito. Quem o fazia, opta agora por ir às bombas dos hipermercados (ver ficha). A subir em 2009 tem estado a compra de roupa, havendo já mais 240 mil compradores de artigos de vestuário. As quantidades vendidas aumentaram e o valor gasto também, mas venderam-se principalmente as peças mais baratas.