Lucília Oliveira, in Fátima Missionária
Para combater e vencer a fome, é essencial redefinir os conceitos e os princípios até agora aplicados nas relações internacionais
“A fome não depende tanto de uma carência dos recursos materiais, mas sim de uma carência de recursos sociais, o mais importante dos quais é de natureza institucional. Falta de facto uma organização das instituições económicas capaz de garantir adequadamente um acesso regular e apropriado à alimentação e à agua, enfrentando as carências ligadas às necessidades primárias e às urgências das verdadeiras crises alimentares”, afirmou Bento XVI.
Na abertura da cimeira mundial sobre a Segurança Alimentar, na sede da FAO – programa das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, em Roma, o Pontífice defendeu que é necessário que os países pobres sejam integrados na economia mundial. O princípio de cooperação, por outro lado, deve ser coerente com o princípio de subsidiaridade.
“A cooperação deve-se tornar um instrumento eficaz, livre de constrangimentos e de interesses que podem absorver uma parte não indiferente dos recursos destinados ao desenvolvimento”, frisou o Santo Padre. Mas, “subsiste ainda um nível desigual de desenvolvimento entre as nações e no interior delas, determinando, em muitas áreas do planeta, condições de precariedade, acentuando a contraposição entre pobreza e riqueza”. A fome “é o sinal mais cruel e concreto da pobreza. Não é possível aceitar a opulência e o esbanjamento ao mesmo tempo que o drama da fome tomar dimensões cada vez maiores”, assinalou o bispo de Roma.
O Papa referiu-se ainda à questão da defesa do meio ambiente na sua intervenção aos congressistas. “Os métodos de produção alimentar impõem uma análise atenta da relação entre desenvolvimento e salvaguarda do ambiente”, disse. Para isso há que “modificar os estilos de vida pessoais e colectivos, os hábitos de consumo e as verdadeiras necessidades. Acima de tudo, é necessário estar consciente do dever moral de distinguir o bem do mal nas acções humanas, para redescobrir assim o elo de comunhão que une a pessoa e a criação”. Bento XVI considera que “a degradação do ambiente está estreitamente ligada à cultura que modela a comunidade humana: quando se respeita, na sociedade, a ecologia humana, favorece-se também a ecologia propriamente dita”.