Clara Vasconcelos, in Jornal de Notícias
Fórum discutiu modelos de integração de imigrantes.Portugal é considerado país com melhores práticas
Começa a fazer caminho a nível europeu um discurso segundo o qual os modelos de integração dos imigrantes estão em crise. Ontem, esta visão foi desmontada e desmentida, no Fórum Gulbenkian 2009.
É em França, particularmente, que o debate sobre o falhanço do modelo republicano de integração de imigrantes tem sido mais aceso. Segundo Christophe Bertossi, do Institut Français des Relations Internationals, que participou ontem no Fórum Gulbenkian Migrações 2009, poderão existir "problemas" nos modelos de integração, mas a causa da "alegada crise" estará também "nos discursos políticos".
Por exemplo, depois dos motins de 2005 nos subúrbios de Paris, políticos e intelectuais foram buscar as causas a "problemas de identidade dos imigrantes", à "sobrelotação dos apartamentos" em que vivem, à "poligamia" ou mesmo à raça "negra com identidade islâmica". Os serviços secretos, pelo contrário, encontraram as causas nas "questões sociais como o desemprego e a segregação". Vingou o primeiro discurso.
"Como encontrar soluções políticas, com tal discrepância", perguntou-se. Mais: como respeitar os valores da República (igualdade, fraternidade, laicidade) "se o discurso político assenta nestes preconceitos?".
Preconceitos e discurso que, segundo afirmou, estarão na base de uma disputa política entre Sarkozy e a Frente Nacional. O presidente francês não quer perder votos para Le Pen. Anunciou recentemente que nenhuma mulher terá lugar em França se usar Burka. E o preceito constitucional que garante a liberdade religiosa, como se compagina com esta medida?, questiona-se, ainda, o investigador.
Na Holanda, é também aceso o debate sobre a falência do modelo de integração baseado no multiculturalismo. O sociólogo Jan Willem Duyvendak, da Universidade de Amsterdão, questiona igualmente esta tese, considerando que nunca existiu multiculturalismo. "Os holandeses são profundamente monoculturalistas", garante. E é este monoculturalismo que "explica o que se está a passar". Os holandeses consideram-se "progressistas" e classificam os muçulmanos de "retrógrados". Não é o pluralismo nem a diversidade que provocam a "alegada crise" dos modelos de integração. É o seu contrário: "não estamos dispostos a encontrar espaço para a diversidade".
Uma diversidade que é já irreversível na Europa. "Temos de ter êxito nessa diversidade", defendeu Bertossi.
A abrir o Fórum, Isabel Mota, Administradora da Gulbenkian, lembrou o relatório da ONU que afirma ser Portugal o melhor país em matéria de integração. "Uma distinção que nos lisonjeia", admitiu, mas que não nos pode levar a "uma visão estática", pois as "políticas têm que continuar a acompanhar o dinamismo da realidade social", advertiu.