18.11.09

Ser criança e não usar a Net leva a exclusão no mundo real

por Rita Carvalho, in Diário de Notícias

Inquérito a três mil rapazes e raparigas entre os 10 e 15 anos mostra que nas grandes cidades quase todos usam a Web para falar com amigos. Estar integrado num grupo passa pelas redes sociais 'online'


Assim que chega a casa depois da escola, Catarina liga o portátil e fica meia hora a ver os e-mails, a consultar as redes sociais do hi5 e do Facebook, e a falar no Messenger. Depois põe-se "ausente" e vai estudar, fazendo várias pausas ao longo da tarde para "espreitar "o que se passa online". Catarina tem 14 anos e vive na Grande Lisboa. Os seus hábitos encaixam perfeitamente no perfil de cibernauta convicto - utilizador frequente de Internet - a que pertencem 36% das crianças entre os 10 e os 15 anos inquiridas num estudo coordenado pela socióloga Ana Nunes Almeida.

"Hoje em dia estar integrado numa rede de pares implica frequentar as redes sociais", explicou ao DN a socióloga que apresentará na próxima semana, na Fundação Calouste Gulbenkian, o estudo "Crianças e Internet: usos e representações, a família e a escola". Ou seja, para os jovens que estão em fase de afirmação social, e num contexto onde quase todos os amigos usam a Internet para socializar, não estar online pode ser sinal de exclusão.

Catarina diz que não é tanto assim. "A vida real é muito mais interessante do que a Internet", confessa, entre risos. Mas a verdade é que grande parte do tempo que passa online é nas redes sociais. E o mesmo acontece com todos os amigos, embora uns liguem mais a isso do que outros. As piadas na escola também vêm muitas vezes desembocar aí. "Normalmente vou ao YouTube ver uma música que alguém me falou ou um vídeo que se comentava na escola", acrescenta.

Aliás, no estudo de Ana Nunes Almeida, é o YouTube que surge no topo dos sites mais visitados pelas crianças, seguido dos videojogos, dos blogues e das redes sociais.

Curiosamente, quando inquiridos sobre o que mais fazem na Web, as crianças respondem procurar informação para os trabalhos da escola.

Catarina não usa a Net todos os dias nas aulas, mas apenas em ocasiões especiais como apresentações de trabalhos. Mas confessa que em casa é aí que vai buscar informação para a escola, como por exemplo, para o trabalho sobre o regime de Cuba que tem em mãos.

Tal como a maioria das crianças do estudo (56%), Catarina tem regras impostas pelos pais para mexer na Internet e está alertada para os seus perigos. Sabe que nem tudo o que aí se vê é verdadeiro e que as redes sociais são boas para conversar com os amigos e não com estranhos. "Tive uma palestra enorme sobre isso da minha mãe! Ensinou-me a ir ao Google e ao Messenger. O resto aprendi. Também me avisou para não pôr dados pessoais no hi5, como por exemplo, o nome da minha escola", conta.

Mas se foi pela mão da mãe que aprendeu a mexer na internet, agora já sabe mais do que ela. Fenómeno que se verifica em muitas famílias, acredita a socióloga, pois os filhos rapidamente ultrapassam os pais.

O estudo demonstra ainda que as famílias com mais habilitações literárias são também as que melhor ensinam os filhos a lidar com as ferramentas informáticas. No caso contrário, "agrava-se o fosso geracional entre pais e filhos", diz Ana Nunes Almeida