Por Sérgio Aníbal, in Jornal Público
País arrancou melhor que os seus parceiros na fuga à crise, mas ainda não há sinais de que possa manter o ritmo a médio prazo
A economia portuguesa está a conseguir, mais cedo do que se esperava, afastar-se dos cenários de recessão. Os números ontem revelados pelo INE mostram que Portugal está outra vez a crescer e de forma mais rápida do que a maioria dos seus parceiros europeus, mas os factores por trás deste sucesso actual estão longe de garantir o crescimento forte da economia nos anos seguintes.
Na estimativa rápida do PIB do terceiro trimestre deste ano ontem publicada, o Instituto Nacional de Estatística aponta para um crescimento face aos três meses imediatamente anteriores de 0,9 por cento. Este número não só significa uma aceleração face aos 0,5 por cento alcançados no segundo trimestre (um número revisto em alta), como fica confortavelmente acima da média da zona euro (onde se verificou um crescimento de 0,4 por cento) e das expectativas que eram feitas pelos departamentos de análise económica dos bancos portugueses nos dias anteriores.
É certo que, em relação ao mesmo período do ano passado, a variação do PIB continua a ser negativa, tendo-se verificado um recuo de 2,4 por cento. Ainda assim, é notória a melhoria face à contracção homóloga de 3,7 por cento que se tinha registado no segundo trimestre. E, em relação à média da zona euro, onde se verificou ainda uma diminuição do PIB de 4,1 por cento, Portugal revelou um desempenho bastante mais favorável.
Os motivos da retoma
O que explica esta fuga mais rápida da crise que está agora a ser feita pela economia portuguesa? Os economistas que, nos bancos portugueses, se encarregam de analisar a evolução da economia, apontam para a combinação de vários factores favoráveis.
Ana Paula Carvalho, do BPI, diz que "o crescimento do consumo privado pode ter sido um factor importante", lembrando que, nos últimos meses, com o programa de troca de veículos usados e a descida das taxas de juro, registou-se uma evolução positiva das compras de automóveis. Esta economista refere ainda que o consumo do Estado e o seu investimento pode ter tido também uma influência positiva nas contas, explicando parte da revisão do segundo trimestre e ajudando à aceleração no terceiro.
Já Carlos Andrade, do BES, diz que o principal factor para esta recuperação é "a recuperação da procura externa", já que Portugal está a conseguir beneficiar mais das exportações do que outros países".
Do lado do INE também são dadas explicações. Apesar de não ser publicada nesta estimativa uma evolução desagregada das diversas componentes do PIB, é referido que "a diminuição menos intensa do PIB em termos homólogos no 3.º trimestre es-teve fundamentalmente associada à redução menos acentuada do investimento". Juntando tudo, o que pode ter acontecido à economia portuguesa foi a continuação do crescimento do consumo das famílias (já ocorrera no 2.º trimestre) e o fim das quedas acentuadas das exportações e do investimento, com ajuda do Estado.
Estes números, contudo, não deixam grandes ilusões relativamente aos próximos anos. Carlos Andrade assinala que "todos os factores por trás do crescimento actual são de natureza mais ou menos conjuntural, pelo que o crescimento potencial da economia continua a ser baixo. Paula Carvalho diz o mesmo. "O quadro geral não apre-senta grandes alterações. Portugal continua com grandes condicionantes ao seu crescimento futuro", diz.
Na semana passada, a Comissão Europeia previu que Portugal, este ano, resistisse melhor à crise que os seus parceiros europeus (como confirmam os números do PIB), mas acabasse por voltar a um cenário de divergência em 2010 e 2011.