Por Carlos Almeida Andrade*, in Jornal Público
Chegados ao final de 2009, e um ano após o ponto mais difícil da recente crise financeira, a economia mundial apresenta sinais claros de recuperação do crescimento. O PIB dos EUA cresceu 3,5 por cento (em termos anualizados) no terceiro trimestre, após uma queda de 0,7 por cento no trimestre anterior. A China cresceu 8,9 por cento em termos homólogos no mesmo período, em aceleração face ao registo de 7,7 por cento do segundo trimestre. Na última semana, os dados do Eurostat confirmaram a saída da economia da Zona Euro do terreno de contracção da actividade, onde se encontrava já há cinco trimestres consecutivos. O respectivo PIB observou, no terceiro trimestre, uma expansão de 0,4 por cento face ao trimestre anterior (em que tinha sido verificada uma queda de 0,2 por cento). Em termos homólogos, a contracção da actividade tornou-se mais moderada, de 4,8 por cento para 4,1 por cento. Embora não seja ainda conhecida a decomposição pelas várias rubricas da despesa, o regresso do PIB a variações trimestrais positivas deverá ter sido o resultado de um fortalecimento das exportações. Já o consumo privado e o investimento deverão ter mantido registos fracos. Entre as principais economias, a Alemanha (+0,7 por cento) e a Itália (+0,6 por cento) lideraram a recuperação, embora com registos marginalmente inferiores às expectativas. A França manteve o mesmo ritmo de expansão do trimestre anterior (+0,3 por cento) e a Espanha registou mais uma contracção do PIB, de 0,3 por cento (menor, contudo, que as quedas dos três trimestres anteriores). A economia portuguesa exibiu um desempenho superior ao conjunto da Zona Euro, ao registar um crescimento trimestral de 0,9 por cento (após 0,5 por cento no segundo trimestre), levando a uma moderação do ritmo de contracção do PIB em termos homólogos, de -3,7 por cento para -2,4. Com todas as principais áreas económicas a registar já crescimentos positivos, é possível afirmar que a recessão global que marcou o final de 2008 e início de 2009 terá já ficado para trás.
O efeito dos estímulos agressivos das políticas monetária e orçamental sobre o consumo e o investimento, um esforço acrescido de investimento em reposição de stockse o fortalecimento dos fluxos de comércio internacional deverão, no seu conjunto, contribuir para novos registos de crescimento relativamente fortes no final de 2009 e no início de 2010, quer na Zona Euro, quer, sobretudo, nos EUA. Subsistem, contudo, diversas dúvidas e preocupações sobre o vigor e a sustentabilidade da retoma em curso. Por exemplo, há uma pressão crescente sobre os Governos no sentido de inverterem a tendência de subida dos défices e dívida públicos. O timing da retirada dos estímulos monetários e orçamentais será extremamente importante. A adopção prematura de medidas de política mais restritivas poderá sufocar a recuperação (como no Japão, nos anos 1990); uma demora excessiva nessa retirada pode alimentar um problema de inflação e de endividamento público excessivo. Outro problema encontra-se na tendência de subida do desemprego e nos níveis de endividamento ainda elevados das famílias e empresas, que justificam uma baixa propensão à despesa privada. Sem um maior dinamismo do investimento e do consumo privados, a actividade global poderá ser penalizada, em 2010, por um eventual esgotamento do ciclo de reposição de stocks. Estas preocupações foram ilustradas na semana passada por um conjunto de indicadores menos positivos: o recuo na confiança dos consumidores nos EUA em Novembro, algum desapontamento com o crescimento do PIB do terceiro trimestre na Zona Euro, uma quebra na confiança dos empresários alemães em Novembro, etc. Em suma, o outlook de curto prazo é positivo, mas justifica-se ainda alguma cautela. Esta semana, alguns indicadores poderão trazer luz sobre o actual ritmo de retoma. Nos EUA, destaca-se a divulgação, relativa a Outubro, do crescimento das vendas a retalho (expectativa de ligeira recuperação), da produção industrial (relativa estabilidade face aos meses anteriores), da inflação (ligeira subida em termos homólogos, mas ainda em terreno negativo) e dos housing starts(que deverão ter prolongado a tendência de recuperação dos últimos meses). Na Zona Euro, a semana será fraca em indicadores, destacando-se o registo final da inflação de Outubro. *ES Research - BES