Catarina Pinho, in Jornal de Notícias
Governantes do Brasil e da Alemanha não abrem mãode um "resultado mínimo" na redução de emissões
As pré-negociações para um novo tratado climático internacional estão tremidas. Ao passo que Obama diz "já não ser possível" levá-lo avante, Merkel e Lula reivindicam resultados mínimos na redução de emissões.
Nem a reunião de dois dias, iniciada ontem, em Copenhaga, que junta ministros do Ambiente de 40 países e tenta salvar o novo tratado climático internacional, parece ter causado repercussão nos países que mais poluem, EUA e China. Aquele que é o último encontro oficial previsto antes da Cimeira da ONU sobre o Clima, em Dezembro, foca-se nos principais temas da agenda da Cimeira de Copenhaga e integra "países centrais" das negociações, como os Estados Unidos, China e Índia, mas também países africanos e vários arquipélagos, que serão afectados pela anunciada subida dos níveis do mar na sequência das alterações climáticas.
É sobre a alçada de Connie Hedegaard, ministra do Clima dinamarquesa e anfitriã deste encontro, que recai a difícil tarefa de salvar as pré-negociações para um novo tratado climático internacional que se revelaram, até agora, inconclusivas.
O responsável da ONU para as alterações climáticas, Yvo de Boer, disse ser necessário alcançar "uma série de decisões claras", para conseguir pôr em prática um novo tratado de seis meses, que substitua o Protocolo de Quioto (cujo prazo expira em 2012), depois da cimeira internacional.
Mas a declaração oficial dos países do Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC) e do presidente norte-americano, Barack Obama, no passado fim-de-semana, deixa antever alguns obstáculos à concretização efectiva de novas metas de redução das emissões de gases de estufa. Divulgado que foi o anúncio da impossibilidade de efectivar o acordo na capital dinamarquesa, à margem da cimeira da organização, em Singapura, as vozes discordantes fizeram-se ouvir. Assumir, "no mínimo", princípios básicos para que se possa diminuir o efeito de estufa é a mensagem que Lula da Silva, presidente brasileiro, transmitiu, ontem, aos governos dos EUA e da China. E deixa clara a intenção de aplicar no seu país as metas a que se propôs. "O Brasil vai trabalhar para diminuir entre 36 e 38,9% a emissão de gases de efeito estufa", assinalou, referindo que metade dessa redução virá com o combate à desflorestação da Amazónia.
Também Angela Merkel veio sublinhar a sua intenção de "obter resultados mínimos", anunciando a participação activa na cimeira, apesar de ter sido afirmado por fonte próxima do Governo alemão que já não é esperado um acordo vinculativo.
A cimeira corre o risco de se tornar numa declaração de intenções. O acordo vinculativo para a redução de emissões de CO2 deverá ficar, assim, remetido para 2010.