6.9.10

Cavaco apela a que se fale verdade sobre o desemprego

Por Sandra Ferreira, in Jornal Público

Pela "informação" que tem, o Presidente considera que "não será difícil" haver um acordo sobre o Orçamento


Cavaco Silva considera fundamental que "não se iludam" os portugueses sobre a situação do desemprego, aquele que considerou ser o principal drama do país. O apelo do Presidente da República foi deixado ontem durante uma visita ao Norte do distrito de Viseu, onde referiu que 600 mil portugueses se encontram à procura de emprego, "sem conseguirem", que 72 por cento estão nessa situação há mais de seis meses e que 55 por cento estão confrontados com o desemprego há mais de um ano.

A cinco meses das eleições presidenciais, Cavaco Silva centrou o discurso nas pessoas: "Cada um de nós pode imaginar a angústia dessas famílias, o desespero que se pode apoderar de algumas, a carência alimentar que pode atingir alguns desses portugueses, a incerteza com que olham para o futuro", sustentou. Para que não haja "ilusões nos comportamentos", Cavaco Silva afirmou em Tarouca e repetiu em Sernancelhe que é fundamental falar verdade e disponibilizar toda a informação para que cada um aja de acordo com o principal objectivo: a redução do desemprego.

Para que Portugal entre no caminho da recuperação económica, Cavaco frisou que todos os contributos são bem-vindos e necessários, das pequenas às grandes empresas, dos pequenos aos grandes concelhos, das comunidades do litoral e do interior: "Através da junção de esforços poderemos mais rapidamente colocar Portugal numa trajectória de recuperação económica e de criação de emprego. É uma tarefa de todos." Em Tarouca, onde inaugurou um monumento de homenagem aos emigrantes, Cavaco realçou que quem está a viver no estrangeiro pode dar também o seu contributo para sair da crise.

Acrescentou que as instituições da democracia têm de funcionar como um exemplo de eficiência no trabalho, de serenidade, de realismo e de união de esforços. É disso que "o país precisa", afirmou Cavaco, referindo-se ao Orçamento de Estado (OE). Em declarações aos jornalistas, afirmou não haver razões para dramatismos.

"De acordo com a informação que tenho, não vejo razão para que não se alcance um compromisso. A aprovação de um orçamento envolve sempre uma negociação e eu já invoquei a minha própria experiência", afirmou, lembrando que teve de "negociar um orçamento com vários partidos políticos na Assembleia da República quando presidia a um Governo minoritário". Acredita, por isso, que "não será difícil" chegar a um compromisso com os diferentes partidos políticos para que o documento seja aprovado.

"É preciso fazer um esforço de diálogo, de negociação", sublinhou, lembrando que há cinco partidos na Assembleia da República, pelo que "o diálogo deve ser com todos eles" por todos terem um contributo a dar, acrescentou. "Talvez seja esta a razão por que eu estou, de alguma forma, confiante de que a estabilidade política se vai manter em Portugal", sublinhou.

Cavaco Silva deslocou-se a Sernancelhe para inaugurar o exposalão, perante uma multidão que não poupou aplausos ao ouvi-lo defender que o poder central deve dialogar com os agricultores numa altura em que se prepara a revisão da Política Agrícola Comum. De manhã, em Armamar, inaugurou o monumento alusivo aos 14 bombeiros que há 25 anos morreram durante um grande incêndio florestal no concelho.