in Jornal Público
Um em cada sete americanos vive abaixo da linha da pobreza. Trata-se do maior número de pobres registado ao longo dos últimos cinquenta anos.
Segundo o Census Bureau, que compila as estatísticas nos EUA e que divulgou estes dados na quinta-feira, 2009 foi o terceiro ano consecutivo em que a taxa de pobreza subiu no país, em parte por causa da recessão, passando de 13,2 por cento em 2008 para 14,3 por cento no ano passado – o que significa que 43,6 milhões de americanos estavam na categoria de pobres em 2009.
Os asiáticos foram o único grupo étnico que manteve estável a sua taxa de pobreza, todas as outras etnias foram afectadas, com especial incidência os afro-americanos. A população hispânica também foi das que mais sofreram os efeitos da crise.
Estas estatísticas reflectem o profundo impacto que a recessão teve na vida dos americanos nos últimos três anos e podem vir a condicionar os resultados das eleições intercalares de Novembro. “Estes números deviam funcionar como um grito de alerta”, disse Peter Edelman, professor da Universidade de Georgetown, que lidera um centro de investigação sobre pobreza e desigualdade. “São números profundamente preocupantes.”
Mas nas organizações onde os desempregados chegam diariamente à procura de emprego ou de comida para mais um dia, estas estatísticas não provocam qualquer surpresa. Num centro de apoio, no condado de Prince William (Virgínia), na quarta-feira de manhã as prateleiras do dispensário já estavam a ficar vazias e ainda havia muita gente à porta. Carol Williams vai ali uma vez por mês, desde Janeiro, altura em que foi despedida de um centro médico devido a cortes orçamentais.
“Trabalhei desde os 15 anos e agora, pela primeira vez, não tenho um emprego e não consigo alimentar a minha família”, conta esta mulher de 55 anos. “Tenho um diploma, mas isso não interessa. Não há empregos.”
Williams, uma mãe solteira, tem cinco bocas para alimentar – filhos e netos – com idades entre os 17 meses e os 28 anos. A alimentação chega a esta família dos dispensários dos centros sociais, do pai de Carol e dos amigos. “Na última sexta-feira não tínhamos nada, nem pão nem nada, porque o dispensário estava fechado. Felizmente uma amiga ajudou-me, porque senão não teríamos o que comer durante o fim-de-semana.”
Pessoas como Williams aparecem cada vez mais à porta das organizações de apoio social. “São pessoas que têm uma boa educação superior, os seus diplomas e que nunca estiveram nesta situação em que se vêem obrigadas a pedir comida ou abrigo”, explica Vickie Koth, directora da Good Shepherd Alliance, no estado da Virgínia. São pessoas, recorda Koth, que antes doavam dinheiro para ajudar os mais pobres e que agora repetem: “Nunca pensei que um dia estaria aqui.”