20.3.07

Adopção internacional acolhe o que portugueses recusam

Cláudia Veloso, in Jornal Público

João e Manuel (nomes fictícios) partem hoje para a Suíça para uma nova vida com o casal que os adoptou, depois de três anos à guarda da Fundação Centro de Ocupação Infantil (COI) de Pinhal Novo. Os irmãos cabo-verdianos, de cinco e seis anos, vão para outro país, porque não encontraram, em Portugal, família que os quisesse acolher.

Este é o primeiro caso de adopção internacional no distrito de Setúbal e a directora do Centro Distrital de Segurança Social está confiante. Fátima Lopes acredita na integração plena dos meninos num país que desconhecem e aposta nos benefícios de um modelo que oferece as respostas que o país não dá: "Há muitas vantagens nesta cooperação internacional, são crianças para as quais já não havia projecto de vida em Portugal." Maria João do Vale, directora executiva da Fundação COI, explica esta ausência de candidatos à adopção. "Não é por serem irmãos e por não os querermos separar, mas sim porque se tratam de crianças negras", lamenta. Desde que o tribunal deu luz verde para a adopção, em Novembro do ano passado, que o processo se desenvolveu "célere e numa lógica de parceria com a Segurança Social". Depois de tratada a burocracia começou a aproximação à nova família. Nas duas últimas semanas, o casal suíço esteve todos os dias no centro de acolhimento e a reacção das crianças "tem sido muito boa", apesar de o casal adoptivo só ter começado a aprender português quando soube que ia receber estes meninos.

No entanto, a secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, Idália Moniz, acredita que a fase de integração das crianças numa nova língua e num novo contexto social é rápida e pacífica. Mais difícil é cruzar a lista de pais adoptivos (actualmente com 2113 candidatos) com a de crianças em condições de serem adoptadas (806). Cerca de 95 por cento dos candidatos pretendem crianças dos zero aos três anos e 94 por cento querem crianças sem problemas de saúde. Mas das 806 crianças que constam da lista, 47 por cento têm entre 7 e 15 anos e 38 por cento têm deficiência e problemas de saúde ligeiros ou graves.

Desde 2000, quando Portugal pôs em prática a Convenção sobre a Cooperação em Matéria de Adopção, já foram adoptadas 148 crianças por famílias estrangeiras. Fazem parte desta bolsa as crianças "para quem foram esgotadas todas as possibilidades de adopção em Portugal", maioritariamente os grupos de irmãos, as crianças mais velhas, com deficiência, doença ou de raça não branca.