11.3.07

Lourdes quer painéis solares, Fernando pede apoio social, Helena exige rigor nas fronteiras

Bárbara Simões, in Jornal Público

Tudo menos o Luxemburgo. A pergunta era: para qual de uma lista de seis países europeus gostaria de ser "transportado" por um dia? E na sala estavam 30 pessoas para responder. Dez preferiram a Grécia e oito a Dinamarca. França, Holanda e Polónia obtiveram o mesmo número de respostas: quatro cada. A ida ao Luxemburgo foi por todos considerada dispensável.

Foi por aqui que ontem começou o dia de três dezenas de portugueses escolhidos para dizer, no âmbito de uma consulta europeia a decorrer até ao final de Maio, como é que gostariam que a Europa fosse em 2020. O projecto é apresentado como "a primeira oportunidade para que as populações de todos os 27 Estados-membros debatam o futuro da União Europeia, ultrapassando as barreiras da geografia e da língua". Objectivo: "Conseguir que estas consultas tenham impacto político."

Ambiente e energia, fronteiras e imigração, políticas sociais e família são os três grandes temas, previamente definidos, do debate. As consultas nacionais tiveram início em Fevereiro. Os portugueses estão este fim-de-semana a ser ouvidos, no Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa. Coincidiram na agenda com mais seis países - daí a pergunta sobre esses outros Estados (apresentada no início dos trabalhos, à margem da consulta propriamente dita), que tanto penalizou o Luxemburgo. A amostra, representativa da população portuguesa, é composta por 15 homens e 15 mulheres.

Cinquenta anos separam dois elementos nos extremos do grupo: João Palhares tem 18 anos, Maria de Lourdes Bernardino tem 68. Coincidem, no entanto, na questão que consideram prioritária, em termos europeus. Ambos estão, antes de mais, preocupados com o ambiente.João é de Mondim de Basto (Vila Real). Trabalha durante o dia e estuda à noite. Veio a Lisboa dar voz à necessidade de uma "maior sensibilização das mentalidades" para os problemas ambientais. Maria de Lourdes, reformada, é de Lisboa. Se tivesse oportunidade, punha a funcionar um gabinete ou um instituto "onde os cientistas pudessem criar alternativas, a baixos custos", para, por exemplo, combater a poluição. "Ainda há muito para descobrir", é a sua convicção. Diz também que obrigava os construtores a colocar painéis solares nos edifícios, "neste país e noutros da Europa onde existe muito sol".

A consulta não tem guião. A ideia é ouvir o que as pessoas realmente pensam acerca dos assuntos. "Faça ouvir a sua voz" é o lema do projecto. Aqui "não há opiniões adequadas e desadequadas", tinha deixado claro o politólogo Pedro Magalhães durante a explicação das actividades do dia.

Fernando Paninho, 46 anos, é dos que sabem bem por onde começariam se pudessem "mandar na Europa". Resume tudo na expressão "apoio directo às famílias". Defende um crédito familiar que permita a um dos elementos ficar em casa a tomar conta dos filhos; e um sistema semelhante para cuidar dos idosos. É monitor da Confederação Portuguesa de Colectividades e vem de Seia (distrito da Guarda).

"Algum rigor na entrada nas fronteiras" é a prioridade de Maria Helena Almeida, 58 anos. "Portugal é chamado o país da Europa do despeja-lixo. Para cá consegue vir tudo - o bom e o mau. Aceitamos tudo. É o despeja." E isso, defende, "provoca um grande aumento do nosso desemprego". Vem de Lisboa, é aposentada da função pública.

Os resultados da consulta nacional são divulgados hoje à tarde. Ainda este mês serão ouvidos mais nove países. A síntese europeia ficará pronta em Maio e será dada a conhecer aos decisores políticos.

1000 é o número aproximado de europeus a dizer como querem que a União seja em 2020