Inês Cardoso, in Jornal de Notícias
Aligação das mulheres ao mundo profissional é uma moeda com duas faces. A positiva mostra que são já maioritárias em muitas profissões de qualificação e escolaridade elevada. A negativa obriga a refrear o entusiasmo os níveis salariais, o desemprego e a protecção na doença continuam a revelar gritantes desigualdades de género. No convencionado Dia Internacional da Mulher, dados oficiais mostram que o homem conserva, no mundo laboral, situação privilegiada.
Curioso é observar que a evolução dos salários médios anuais em Portugal, na indústria e nos serviços, já conheceu dias de maior convergência. A análise, feita pelo economista Eugénio Rosa com base em dados do Eurostat e em estimativas de crescimento, aponta 2002 como o ano em que foi mais reduzida a distância entre mulheres e homens (ver gráfico), voltando desde então a agravar-se as diferenças (em valores absolutos).
O fosso é ainda maior quando considerados os subsídios de doença - calculados com base na remuneração declarada para a Segurança Social. Em média, atendendo às estatísticas daquele organismo, no ano passado o subsídio médio mensal auferido por mulheres representou apenas 69,8% do valor médio recebido por homens.
Todos os indicadores de protecção social são, de resto, motivo de dor de cabeça para mulheres. Em termos médios, as que receberam subsídio de desemprego, em 2006, viram ser-lhes pago o equivalente a apenas 78% do valor médio do homem (336 euros, portanto menos que o salário mínimo nacional).
Com uma agravante - o desemprego parece ter género. Entre o quarto trimestre de 2004 e o período homólogo de 2006, o desemprego feminino aumentou mais do dobro relativamente ao masculino. Em Dezembro, 249 mil do universo de 458 mil desempregados eram mulheres.
Mais más notícias quanto a desigualdades? Eugénio Rosa, antigo deputado do PCP, encontrou várias, na leitura fina de estatísticas oficiais. As pensões pagas aos reformados do regime geral, também em 2006, são mais uma vez desiguais, com a maior diferenciação a sentir-se nas reformas por velhice o valor médio para mulheres corresponde a 60,9% do pago aos homens.
Se faltam às mulheres compensações e garantias niveladas pelas dos homens, sobram números reveladores da sua inserção em grupos profissionais relevantes. São maioritárias, por exemplo, na categoria de especialistas das profissões intelectuais e científicas (56,4%). Dominam também em sectores com qualificação e escolaridade média (que abrange categorias como administrativos e serviços).
Uma tendência que acompanha a supremacia por níveis de escolaridade. No final de 2006, as mulheres representavam 57,4% da população com ensino superior e 50,5% dos trabalhadores com o ensino secundário concluído, enquanto os homens são maioritários (56,8%) no nível de escolaridade básica.
Direcção
Pelo menos 38% das empresas no mundo in teiro com 150 a 500 assalariados não têm qualquer mulher em cargos da mais alta responsabilidade, indica um estudo o gabinete de auditoria "Grand Thornton".
Violência
Uma em cada cinco mulheres no mundo sofre uma violação ou tentativa pelo menos uma vez na vida, segundo a Amnistia Internacional. Em Portugal, a Associação de Apoio à Vítima registou, em 2006, 13 mil crimes de violência doméstica.