Maria João Guimarães, in Jornal Público
Relatório de direitos humanos do Departamento de Estado admite que as suas próprias acções estão sob escrutínio. Borat é mencionado entre as vítimas
O Governo de Lisboa "não reconhece legitimidade ao Departamento de Estado norte-americano para fazer comentários sobre os direitos humanos em Portugal", disse à Lusa uma fonte do Ministério da Administração Interna, numa reacção aos reparos do relatório de direitos humanos do Departamento de Estado. Washington diz que há problemas com a violência da polícia sobre os detidos, nota más condições nas prisões e as prisões preventivas demasiado longas e menciona o tráfico de estrangeiros e mulheres.
No seu documento, o Departamento de Estado não analisa as acções norte-americanas, nomeadamente a polémica prisão de Guantanamo. Mas afirma que os EUA "levam os seus direitos humanos a sério". E ainda: "Reconhecemos que estamos a escrever este relatório numa altura em que o nosso próprio registo e as acções que temos levado a cabo para responder aos ataques terroristas contra nós têm sido questionados". A afirmação foi feita na introdução do relatório, mas não passou despercebida, já que é raro o reconhecimento por parte de Washington de que o modo como respeita os direitos humanos é questionado.
Mas esta assunção não evitou que a China reagisse às críticas - por prisões de jornalistas, perseguições religiosas e esforços por controlar o acesso dos cidadãos à Internet. "Aconselharíamos a América a preocupar-se mais com os direitos humanos no seu próprio país", afirmou o porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, citado pela Reuters.
O relatório elege a violência no Darfur como a pior violação de direitos humanos em 2006. O documento não hesita em dizer que acontece um genocídio na região sudanesa (um termo geralmente evitado pelos Governos europeus), culpando tanto as forças governamentais e as milícias ligadas a Cartum como os grupos rebeldes pela violência - algo raro, já que, nota a Reuters, as críticas são por norma guardadas para as forças governamentais e milícias.
O Cazaquistão foi também mencionado no relatório, e teve mais atenção o facto de a personagem Borat ter sido mencionada entre as vítimas da falta de liberdade de expressão (foi-lhe negado o domínio "kz" do site que tinha criado) do que o assassínio do político da oposição Altynbek Sarsenbaiuly. Também o Iraque, invadido pelos EUA em 2004, foi alvo de críticas por causa dos esquadrões da morte com ligações ao Governo, raptos e tortura. A Rússia também foi apontada pela crescente "erosão da responsabilidade do Governo", e na Tchetchénia continuam a ser levadas a cabo "violações graves dos direitos humanos", quer pelas forças russas, quer pelas forças de segurança tchetchenas.