8.3.07

"Sem formação não teria chegado aqui"

in Jornal de Notícias

No final de Março começa a campanha de sensibilização para a importância de ter uma formação, "para se ser alguém". Numa primeira fase, figuras públicas do mundo da moda, futebol e espectáculo vão protagonizar spots de rádio e televisão, dizendo algo como isto "Sem formação, não teria chegado aqui". Numa segunda fase - de apelo à formação - é reforçada a ideia de que a notoriedade advém de um percurso que passa pela aprendizagem de saberes e a formação. O repto é para que os alunos escolham a via profissional. O spot mostrará um jovem a abrir várias portas e em vez de uma sala de aula tradicional, vê uma plateia de formandos num ateliê ou oficina.

A terceira etapa - lançada a 8 de Abril - visa valorizar o papel da escola. Crianças surgirão em cartazes, dizendo que aprendem inglês, a fazer contas, a trabalhar em grupo. O lema é "Todos juntos podemos melhorar a escola". A campanha custará cerca de 650 mil euros e termina no final do ano lectivo.Para Luís Domingues, sociólogo na Universidade do Minho, "é bom que se valorize o ensino profissional", porque subsiste uma grande resistência das famílias à escolha desses cursos.

"Os jovens fogem do trabalho manual e desvalorizam o salário, que é muitas vezes superior ao das profissões sem sujidade", diz. Conta, aliás, que na Serra da Estrela, onde trabalhou, os pastores tinham boas contas bancárias, mas as moças preferiam namorar os operários têxteis que ganhavam mal, mas trabalhavam oito horas e tinham o fim-de-semana livre. Para este investigador, "é preciso valorizar a ciência e a tecnologia, envolver os jovens, famílias, media, autarquias e Igreja numa campanha de longa duração, que possa transformar as mentalidades vigentes".

Para o sindicalista Adriano Teixeira Sousa, em vez do Ministério "aceitar o abandono escolar como uma fatalidade", deveria "dar às escolas meios e condições que têm sido negados". Para este professor, há turmas demasiado grandes "e as escolas não têm autonomia pedagógica para as desdobrar, para dar mais atenção aos alunos com dificuldade de aprendizagem".

"O encaminhamento dos que abandonam a escola para os Centros de Validação e Reconhecimento de Competências (CVRC) pode ser uma forma de melhorarem, ou de resolver de forma administrativa o problema da falta de qualificação", diz.

Para Teixeira Sousa, os jovens ficam com o diploma e, "dentro de alguns anos, as estatísticas mostrarão mais diplomados, mas a formação fica por resolver". Este ponto é referido pelo sociológo, Luís Domingues que aponta a necessidade de se requalificar a formação em áreas decisivas para a competitividade nacional, como é o caso dos trabalhadores da construção civil.