22.10.07

Aprender a falar com quem vive no silêncio

Inês Schreck, in Jornal de Notícias

Crianças aprenderam a substituir as letras por gestos para expressarem o seu nome em Língua Gestual


Um filme sobre as dificuldades de uma aluna surda e os seus problemas de isolamento despertou Liliana Almeida para uma realidade diferente. Anos mais tarde, conheceu um rapaz surdo e o destino parecia traçado. Está hoje no último ano do curso de Tradução de Língua Gestual Portuguesa da Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto. Ontem de manhã, juntamente com as colegas de turma, Liliana mostrou que "basta força de vontade" para dar uma oportunidade a quem vive preso a um mundo de silêncio.

No mundo da língua gestual, as mãos substituem a boca, as frases constroem-se com gestos. "Bom dia", "olá", "gosto de ti" foram algumas das palavras que crianças e adultos, ontem presentes na Fnac de Santa Catarina, puderam aprender a traduzir para Língua Gestual. Até parece fácil, mas engana.

"É um bocado difícil porque não temos, como os outros alunos, o apoio dos livros. Por isso, é preciso ir às aulas, tentar memorizar o mais possível e praticar muito em casa", explica Liliana Almeida, garantindo que "com força de vontade, consegue-se". A jovem gostava de ser intérprete numa escola, de poder ajudar os alunos surdos a compreender o que diz o professor.

"É o maior mercado para colocação destes alunos", realça Susana Barbosa, professora de Tradução de Língua Gestual há três anos, referindo que há cerca de 110 mil pessoas surdas no país.

Apesar do número, a maioria das escolas ainda não está preparada para responder ao problema. "Existem escolas com apenas um intérprete para 30 alunos de turmas e anos diferentes", continua Liliana. O pior, continua, é que se aqueles alunos não tiverem um tradutor, não vão ter oportunidade de aprender. Aliás, está provado que se as crianças surdas que frequentam o ensino regular não tiverem apoio tendem a abandonar os estudos precocemente.

"Também é importante as crianças aprenderem para comunicarem com as que não podem ouvir", defendeu Fátima Rosa, que assistiu à demonstração das alunas do curso de Língua Gestual com filha. Telma, de 7 anos, saiu da Fnac a saber dizer o seu nome na língua dos surdos.