Ana Peixoto Fernandes, in Jornal de Notícias
O programa de promoção do livro e da leitura "Dar Vida às Letras" promovido ao longo dos últimos dois anos, junto de crianças e jovens da região do Alto Minho, teve como resultado uma redução substancial da intenção dos alunos de 2º e 3º ciclos de abandonar a escola. Os efeitos do projecto que implicou a realização de várias actividades extra-escolares com alunos do pré-escolar e estudantes entre os 13 e os 15 anos, que apresentavam dificuldades ao nível do aproveitamento escolar, foram ontem revelados durante uma sessão pública na Escola Profissional do Alto Minho Interior (EPRAMI), em Monção. A ocasião foi aproveitada pelos pais das crianças da antiga EB1 de Merufe para, uma vez mais, "ensombrarem" actos públicos em que a câmara de Monção participe, conforme o que anunciaram após o fecho do estabelecimento de ensino da freguesia este ano.
"Políticos das tretas fecham uma escola nova e querem dar vida às letras", podia ler-se num cartaz colocado estrategicamente junto à entrada das instalações da EPRAMI ontem à tarde. Lá dentro cerca de três dezenas de pessoas, na sua maioria pais, assistiam à sessão vestidos com Tshirt's pretas onde se lia "Queremos a nossa escola aberta". "Este é o terceiro acto que ensombramos e é para continuar até sair fumo branco. Até que a EB 1 de Merufe reabra", garantiu um porta-voz dos pais, Paulo Cerqueira.
Protestos à parte, os manifestantes levaram para casa boas notícias, porque ficaram a saber que "actividades como o Dar Vida às letras pode favorecer a inclusão escolar". "Os miúdos aproximaram-se da escola. Em 2006, quando começou o projecto, quase metade das crianças, 47, 5%, não gostava de andar na escola. Dois anos depois, os mesmos jovens passaram para 27,2%", revelou Albertino Gonçalves, coordenador científico da avaliação dos efeitos do programa, comentando "Sabendo que em termos de afectos em relação à escola as coisas são difíceis. Este foi um ganho mesmo muito significativo. Pode mesmo ser considerado o ganho mais emblemático".
Mas há mais. "Em 2006, 40% dizia que deixava a escola se pudesse e dois anos mais tarde só dizem isso 22%", continuou aquele responsável, revelando ainda que o entusiasmo dos jovens com este programa que fez uso das bibliotecas municipais foi total. "Foi extraordinária a adesão. Dos 59 alunos do 2.º e 3.º ciclo que participaram só desapareceram seis e há que ter em conta que três emigraram com os pais. Só dois é que abandonaram efectivamente a escola para trabalhar".