Ana Dias Cordeiro, in Jornal Público
A situação do Darfur foi várias vezes referida numa conferência, ontem em Lisboa, sobre política europeia de segurança e defesa e o papel desta na prevenção e resolução de conflitos em África. Não só porque é uma das situações urgentes no continente africano que têm apelado a uma intervenção internacional e da União Europeia (UE). Mas também porque o Darfur, como os países limítrofes desta região do Sudão, será em breve o palco daquela que poderá ser uma cooperação bem sucedida - ou não - entre europeus e africanos na resolução de conflitos em África.
Este era o local apropriado: o encontro foi organizado pela presidência portuguesa da UE e o Instituto de Estudos de Segurança da UE para preparar um tema que será central na cimeira UE-África, de Dezembro.
A força conjunta entre ONU e União Africana (UA), que está a ser preparada, com a ajuda da UE, para estar operacional nesta província ocidental sudanesa durante o próximo ano, será "um importante teste à capacidade da comunidade internacional de cooperar não só nos aspectos estratégicos mas também operacionais", disse ao PÚBLICO o moçambicano João Bernardo Honwana, chefe de gabinete da Missão das Nações Unidas no Sudão, à margem do encontro.
Ao mesmo tempo, a força que a UE vai enviar para o Chade e República Centro-Africana, para conter os efeitos negativos do conflito do Darfur nestes dois países vizinhos do Sudão, cria grandes expectativas porque é conhecida "a experiência da UE em missões de paz, como por exemplo nos Balcãs", acrescentou. "Porém, é muito importante que haja uma coordenação funcional entre a UE, a UA, a ONU e os países envolvidos."
Essa coordenação nem sempre resultou no passado, segundo alguns participantes do encontro, como se tem comprovado, por exemplo, na actual força da UA que recebe apoio financeiro da UE.
No plano dos valores e dos princípios, da cooperação e políticas de segurança e defesa, a UE e a UA estão juntas, garantiu Said Djinnit, comissário da UA para a Paz e Segurança; as dificuldades surgem muitas vezes, mas no plano operacional, especificou.
Do painel sobre cooperação UE-África em matéria de segurança ficou também a ideia de que a ajuda da UE, logística, financeira, de formação, é fundamental mesmo quando o papel da UA é central. Deve haver diálogo permanente para tornar a cooperação eficaz, entre africanos e europeus, que iniciaram um caminho - para o qual não há retorno desde o genocídio de 1994 no Ruanda, segundo Said Djinnit - de envolvimento na resolução dos problemas.