Bárbara Wong, in Jornal Público
José Sócrates anunciou investimento de cinco milhões de euros para que todas as escolas tenham biblioteca escolar até ao final do ano lectivo
Os portugueses estão a ler mais do que há dez anos atrás. Lêem mais jornais, revistas e livros, mas ainda assim não lêem o suficiente quando se compara com outros países europeus. Em dez anos, o número de leitores de livros aumentou sete por cento e o de jornais quase 20 por cento, diz o estudo A Leitura em Portugal que será hoje divulgado na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no âmbito do congresso de avaliação do Plano Nacional de Leitura (PNL).
Este ligeiro aumento do número de leitores ainda fica "aquém" do espectável, considera a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. Por isso, o Governo vai continuar a investir quer no PNL, quer na rede de bibliotecas escolares.
O investimento foi anunciado pelo primeiro-ministro José Sócrates: até ao final do ano lectivo, todas as escolas do ensino básico estarão integradas na rede de bibliotecas escolares, o que implica um investimento de cinco milhões de euros, noticia a Lusa.
O Ministério da Educação vai investir 1,5 milhões de euros no apetrechamento de bibliotecas com livros, e as autarquias investirão outros 1,5 milhões de euros com o mesmo fim. A rede de bibliotecas nas escolas básicas vai ser concluída com a construção de 130 novos espaços e em 17 secundárias serão renovadas as bibliotecas. Nos últimos dez anos, foram criadas 1880 bibliotecas, 847 no 1.º ciclo e 1033 nos restantes, tendo sido investidos 33,5 milhões em recurso técnicos e docentes.
Maria de Lurdes Rodrigues elogiou o trabalho do Gabinete de Bibliotecas Escolares, com poucos recursos humanos e sob a "liderança segura" de Teresa Calçada, desde que foi criado, há dez anos. "Dou os parabéns à coordenadora, mas também ao ministro da Educação de então [Marçal Grilo] e aos seguintes, que foram respondendo pela política educativa".
Para José Sócrates, as bibliotecas "favorecem o acesso de todos aos livros e à leitura, a escola fica mais completa e serve melhor os alunos e, se forem organizadas segundo um padrão nacional, reduzem as desigualdades e as assimetrias".
Bibliotecas em meio rural
Fazendo referência a um dos estudos que serão hoje apresentados, Isabel Alçada, comissária do Plano Nacional de Leitura, diz que as bibliotecas escolares têm maior importância nos meios rurais, provavelmente porque nos urbanos há mais recursos. Contudo, segundo o inquérito aos Hábitos de Leitura da População Escolar, a importância da biblioteca escolar vai diminuindo à medida que os alunos vão crescendo em idade e exigências de leitura.
Os estudantes vão à biblioteca para procurar livros, mas o seu número diminui drasticamnente do 2.º ciclo para o secundário, onde apenas 12 por cento dizem recorrer àquele espaço para esse efeito. A biblioteca serve também para preparar trabalhos escolares. Para isso, é procurada por 35 por cento dos alunos do 2.º ciclo, 23 por cento do 3.º e 21 por cento do secundário. Em sentido contrário sobe o uso da Internet, que é mais procurada pelos do secundário (22 por cento).
Também o estudo A Leitura em Portugal, coordenado por Maria de Lourdes Lima dos Santos, do Observatório das Actividades Culturais, sobre os hábitos de leitura dos portugueses, se debruça sobre o uso da biblioteca. No universo de 2552 inquiridos, foi criada uma subamostra de 737 pais e encarregados de educação que dizem que, em 36,5 por cento dos casos, os seus filhos nunca frequentaram a biblioteca escolar e 50,6 nunca foram à biblioteca municipal. Porque não o fazem? Porque têm outras maneiras de aceder aos livros, respondem.
No entanto, os que frequentam consideram que a biblioteca pode estimular a leitura dos filhos de várias formas porque tem uma selecção adequada de livros para as suas idades, oferece condições para desenvolver trabalhos escolares e tem um ambiente atractivo.
No entender de Isabel Alçada, ainda há muito trabalho a fazer, porque "a leitura não é só para a escola, mas é essencial para a vida", conclui a coordenadora do PNL.
4,7%
Quase cinco por cento de não leitores, quase quatro quintos dos não leitores de livros e jornais lêem... contas e recibos