17.10.07

Um quinto da população portuguesa é pobre

in RTP

Mais de 60 escolas, em todo o país, aderiram à iniciativa "Levanta-te contra a pobreza
"

Dois milhões de portugueses vivem com menos de 360 euros por mês. Esta é a principal conclusão do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento 2005, com dados de 2004, divulgado no âmbito do Dia Internacional da Erradicação da Pobreza.

Dezanove em cem portugueses tem um redimento anual inferior a 4.321 euros, mas este ascende a 41 por cento se apenas considerarmos a verba resultante dos rendimentos do trabalho, excluindo as transferências sociais. Este valor coloca Portugal no grupo de dez países com uma taxa superior à média europeia, que é de 16 por cento. Um grupo liderado pela Espanha, Grécia e Irlanda, ocupando Portugal a quarta posição.

A importância das transferências sociais ganha novos contornos quando verificamos que contribuem para diminuir a taxa de pobreza em 15 pontos percentuais, nos casos de pensões de reforma ou sobrevivência, e em sete pontos percentuais, quando estão em causa pensões de velhice, doença, desemprego ou inserção social.

Os idosos a viverem sós e as famílias com dois adultos e três ou mais crianças dependentes (até 16 anos) constituem os grupos em que o risco de pobreza é mais representativo.

Por outro lado, o grupo etário entre os 25 e os 49 anos apresenta a menor proporção de pessoas a viver abaixo da linha de pobreza. São ainda os agregados familiares compostos por dois adultos, sem crianças, ou com apenas um dependente que acusam os valores mais baixos de risco de pobreza.

Outra das conclusões do estudo é o fosso acentuado entre pobres e ricos na sociedade portuguesa em 2004. “O rendimento dos 20 por cento da população com maior rendimento era 6,9 vezes o rendimento dos 20 por cento da população com menor rendimento”, lê-se no relatório disponibilizado na página online do Instituto Nacional de Estatística. Esta desigualdade de rendimentos coloca Portugal na liderança da tabela da União Europeia com 25 membros.

“É qualquer coisa que nos interpela”, comentou Ana Maria Braga da Cruz, da Rede Europeia Anti-Pobreza, para sustentar a necessidade de “projectos de informação à população em geral para a sensibilizar e de projectos de formação em que os pobres sejam incluídos nessas decisões para a sua vida”. “Não é fazer coisas para os pobres, é fazer coisas com os pobres, no sentido de reflectirem qual é o caminho para uma alteração das suas perspectivas de vida”, acrescentou.

Ana Maria Braga da Cruz comentou à RTP que esta situação diz respeito a todos, constituindo uma “posição ética e de direitos humanos, quando pagamos impostos”.

Existem “estudos que mostram que a pobreza se repete e há um ciclo dentro da mesma família quando não há qualquer cavilha para ajudar as pessoas a tomarem outros caminhos”, para apelar ao combate ao estereótipo da continuidade dos comportamentos que não estimulam a pobreza.

Portugal ajuda pouco países mais pobres

O Índice de Compromisso para o Desenvolvimento 2007, divulgado sexta-feira, apontou que “Portugal deu apenas 0,21 por cento dos Rendimento nacional Bruto (de 315,8 milhões de euros)”, posicionando-se bastante longe dos 0,51 por cento até 2010 definidos na Declaração do Milénio, assinada em 2000.

“Esse valor não dá mais do que oito cêntimos por cada português”, comentou Luís Mah, coordenador em Portugal da campanha Milénio das Nações Unidas, e coloca o país na 18.ª posição num total de 21 países signatários da Declaração.

Os Objectivos do Milénio estipulam que este valor cresça para 0,78 por cento até 2015.

“Temos de continuar a fazer ver que é preciso manter e cumprir os objectivos assumidos”, comentou Luís Mah, que sustenta competir “ao ministro das Finanças aumentar o orçamento para a Ajuda Pública para o Desenvolvimento”. “É isso que gostarámos de ver reflectido no Orçamento de Estado”, declarou.
Raquel Ramalho Lopes