Sofia Branco, in Jornal Público
Todas as atenções estavam viradas para o Tratado Reformador da União Europeia (UE), no primeiro dia de trabalhos da Conferência Intergovernamental (CIG). Porém, ao início da noite, surgiam notícias que davam conta de uma possível adesão da Suécia, Finlândia, Dinamarca e Holanda ao boicote à Cimeira UE-África já declarado pelo Reino Unido e apoiado pela República Checa.
A defesa dos direitos humanos é apresentada como o grande busílis, que resultou num claro apelo a que o Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, fique de fora do encontro de 8 e 9 de Dezembro.
Ao que o PÚBLICO apurou, a Suécia e principalmente a Holanda são os países mais reticentes, com a Dinamarca a assumir uma posição mais indefinida. Isso mesmo confirmou o primeiro-ministro dinamarquês, Anders Rasmussen, que apresentou a discussão sobre os direitos humanos no Zimbabwe como uma pré-condição à sua presença na cimeira, mas que realçou ainda não ter decidido o que fará se tal exigência estiver garantida mas Mugabe vier a Lisboa.
Os direitos humanos, a democracia e a boa governação estarão na agenda da cimeira, mas, como esta não está fechada, os Estados-membros não dispõem ainda de toda a informação que lhes garanta isso mesmo. Aliás, a presidência portuguesa ainda tenta convencer o Zimbabwe a fazer-se representar por um dirigente que não Mugabe.
Os convites para a cimeira só serão enviados no início de Novembro, por alturas da troika UE-União Africana (UA). Os nórdicos e a Holanda aproveitaram a garantia de cobertura mediática e a grande concentração de líderes europeus para pressionarem a UE a reafirmar os seus princípios em matéria de direitos humanos. Na verdade, limitaram-se a publicitar algo que já se sabia. Que estão divididos quanto ao que fazer em relação à cimeira. Por um lado, todos têm um manifesto interesse em dar um novo fôlego às relações UE-África, fazendo aprovar uma estratégia conjunta sete anos após o primeiro encontro de alto nível entre os dois continentes, também sob presidência portuguesa. Por outro lado, têm receio das suas opiniões públicas, muito sensíveis às questões dos direitos humanos e extremamente críticas do regime de Mugabe.
José Sócrates não perdeu tempo e reafirmou que a Cimeira UE-África precisa de todos os participantes. "Estamos a fazer trabalho diplomático para garantir que ninguém abandona o encontro", disse à revista francesa L" Express. E foi ainda mais concreto: "Mesmo aqueles que revelam uma justificada intransigência acerca da questão dos direitos humanos têm que perceber que a cimeira é necessária exactamente para promover os direitos humanos."
Da troika UE-UA sairão os documentos que servirão de base à cimeira - a estratégia conjunta UE-África e o plano de acção. O encontro de Dezembro servirá sobretudo para o imprescindível endosso político.