18.10.07

Portugal entre os que menos crescem e mais se endividam

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

O Fundo destaca Portugal, em conjunto com a Espanha e a França, como um dos principais prejudicados com a subida do euro


O Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou ontem a colocar Portugal, durante este ano e o próximo, entre os 30 países avançados do mundo com indicadores económicos mais desfavoráveis e com uma situação mais frágil face aos desequilíbrios nos mercados internacionais.

Tal como já tinha feito no recente relatório específico sobre a economia portuguesa publicado na semana passada, o Fundo avançou ontem, no relatório semestral sobre a economia mundial, com uma estimativa de crescimento de 1,8 por cento, tanto em 2007 como em 2008. Com este valor, Portugal regista este ano, entre os 30 países do mundo considerados avançados, o segundo pior resultado, apenas à frente da Itália. Em 2008, apesar de se antecipar um abrandamento à escala mundial, apenas ultrapassa mais um país, a Dinamarca. Com a zona euro a crescer a uma taxa de 2,1 por cento, o Fundo antecipa que Portugal passe mais um ano sem convergir face aos seus parceiros.

O ranking nacional não melhora muito quando o FMI avança com previsões para outros indicadores. Em relação à inflação, os 2,4 por cento antecipados para o próximo ano são o quarto valor mais elevado da zona euro e o 11.º entre os países avançados. A estimativa do Fundo para a inflação merece, no entanto, algumas reservas porque, para 2007, a estimativa é de 2,5 por cento, quando os últimos indicadores do INE apontam claramente para uma taxa de inflação no final do ano de 2,3 por cento.
No que diz respeito ao défice externo, Portugal mais uma vez fica entre os piores. Com um saldo negativo de 9,2 por cento na balança de transacções correntes, apenas fica melhor, entre os 30 países avançados, do que a Espanha e a Grécia. Estes três países do Sul da Europa são, no mundo industrializado, claramente aqueles em que a dívida externa mais pesa na economia.

Apenas ao nível da taxa de desemprego Portugal não se destaca pela negativa. O FMI prevê que este indicador caia de 7,4 por cento em 2007 para 7,1 em 2008, um valor mais optimista do que o apresentado pelo próprio Governo.

Tanto o Executivo como o Banco de Portugal têm sido muito críticos das últimas projecções do FMI para Portugal. Vítor Constâncio disse que um crescimento de 1,8 por cento em 2008 era "excessivamente pessimista". Teixeira dos Santos fez questão de lembrar o historial de erros na previsão que o FMI tem para a economia portuguesa.
A ameaça do euro

O que é certo é que na base das projecções feitas pelo FMI está a ideia de que Portugal surge fragilizado e exposto a riscos. O Fundo afirma mesmo que "a força do euro deverá pesar nas perspectivas de exportação de países sem espaço de manobra ao nível da competitividade, incluindo a França, Portugal e Espanha".

Além disso, o aperto ao crédito a que se assistiu durante os últimos meses à escala global afecta, diz o Fundo, os países com um nível de endividamento mais alto e preços das casas exagerados. Portugal é dos países onde famílias e empresas têm mais dívidas. No que diz respeito ao preço das casas, Portugal já assistiu a uma estabilização de preços, mas pode sair afectado pelo que acontece em Espanha, um dos países em que a criação de uma bolha no mercado imobiliário parece mais evidente.