in Jornal Público
Como a tortura ou a privação da liberdade, a pobreza deve ser reconhecida como uma violação dos direitos humanos, defende-se numa petição subscrita por mais de 23 mil pessoas que ontem, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, foi entregue ao presidente da Assembleia da República pela presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz. Erradicar a pobreza? Manuela Silva lembra que a abolição da escravatura também parecia uma utopia, mas aconteceu.
Filipa Frazão, 18 anos, tem esperança: "Todos juntos talvez possamos mudar um bocadinho o mundo." Ela e outros cerca de 400 universitários juntaram-se na alameda da Cidade Universitária de Lisboa. Primeiro deitaram-se, depois levantaram-se, no âmbito da acção internacional "Levanta-te e Faz-te Ouvir", que ontem decorreu em praticamente todo o mundo em prol dos chamados Objectivos do Milénio, entre os quais figura a erradicação da pobreza extrema. "Levantamo-nos porque queremos justiça agora. Não há mais desculpas. Nós não as aceitamos." O manifesto é internacional.
Portugal é um dos países que não têm cumprido as suas promessas, principalmente a nível da ajuda aos países pobres.
Em 2006 levantaram-se mais de 23 milhões de pessoas (cerca de 20 mil em Portugal). Para este ano, a meta era chegar aos 50 milhões.
Segundo a Campanha Pobreza Zero, que organizou a acção em Portugal, para ontem estavam previstas mais de duas mil acções, abrangendo cerca de 45 mil pessoas. Alguns números ontem recordados pelo presidente da Caritas, Eugénio da Fonseca: "Há três mil milhões de pobres no mundo, 78 milhões dos quais vivem na Europa, onde, segundo o Eurobarómetro, uma em cada 10 pessoas é excluída da sociedade. O que corresponde a uma média de 20 por cento nalguns Estados-membros da União Europeia, como é o caso de Portugal." Segundo aquele responsável, "para além de medidas governamentais inadequadas, o emprego precário e mal pago e a discriminação no acesso aos serviços mínimos são algumas das muitas e complexas causas que impendem sobre os indivíduos como membros de pleno direito da sociedade".