18.10.07

Preencher o vazio humano

Victor Melo, in O Primeiro de Janeiro

Instituições e particulares pretendem criar uma plataforma para o desenvolvimento de projectos inovadores de intervenção social na Área Metropolitana do Porto (AMP). Aproveitar os prédios devolutos existentes e adaptá-los a equipamentos sociais é dos objectivos.

Estabelecer sinergias entre instituições e particulares com vista à criação de uma plataforma para o desenvolvimento de projectos inovadores de intervenção social na Área Metropolitana do Porto (AMP), designadamente de apoio aos mais desfavorecidos. Naquele que foi o dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, foi esse o grande objectivo assumido no seminário «O 3ºIncluído – Nova geração de respostas sociais», realizado no Porto. O padre Maia, presidente da Fundação Filos, assumiu que a jornada, que visa também celebrar a referida efeméride, correspondeu às expectativas, nomeadamente pelo constatar de “uma nova geração de respostas sociais”.
“A Área Metropolitana do Porto tem novas realidades, novos problemas”, refere padre Maia, frisando a “persistência da falta de equipamentos sociais para dar assistência a idosos, pobres e toxicodependentes”. As propostas apresentadas no seminário visam suprir essa lacuna: “Comprovámos aqui que é fácil reabilitar casas velhas, devolutas, e metê-las ao serviço da causa social”, afirmou, referindo-se à apresentação de projectos realizados por dez arquitectos que propõem uma nova geração de equipamentos sociais.

O padre Maia salienta a existência de inúmeros espaços urbanos degradados que se constituem como vazio ao remeterem para uma dupla ausência: a de uso – habitabilidade, e a de sentido – ausência de significância social. “Vazios urbanos que pretendemos adaptar para preencher os vazios humanos”.

Princípios e objectivos da plataforma

A plataforma, denominada «Compromisso com a Inclusão», conta com a participação da Fundação Filos, Norte Vida, Associação Ermesinde Cidade Aberta, entre outras.
A sua declaração de princípios foi apresentada no seminário, identificando os destinatários: “pessoas e populações que, vivendo em particular situação de vulnerabilidade social, não lhes é permitido o exercício pleno da cidadania”.

O documento acrescenta ainda que “a natureza multifacetada e complexa dos fenómenos sociais, em particular os que configuram dimensões de exclusão social, torna imperativo para os diversos agentes sociais a procura de novas formas de intervenção, designadamente as que se traduzem numa lógica de parceria e de partilha de recursos e saberes, em que a ideia de território de cooperação alargado se afirma em detrimento da abordagem local”.

O padre Maia informa que as instituições constituintes vão reunir-se para “delinear estratégias, prioridades e maneiras de actuação”, sublinhando o objectivo de ter um representante de cada um dos 14 concelhos da AMP na plataforma, que pretende ver concretizada num futuro próximo: “Até ao Natal, pensamos que a situação ficará clarificada, para que nos possamos bater com projectos inovadores, para fazermos aquilo que não está a ser feito e que possa ser útil para as pessoas mais carenciadas, que ainda são muitas na AMP”.

Apelo à colaboração governamental

Em defesa de novos projectos o padre Maia aproveitou a presença da governadora civil do Porto, Isabel Oneto, para desafiar o Governo a destinar um por cento do valor do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) que chegará à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte para a AMP, designadamente para os eixos valorização do território e valorização de recursos humanos.
“Um por cento pode permitir fazer muita coisa na AMP”, frisou, acrescentando que as instituições “cá estão para dar, depois, o seu contributo”.
O padre Maia mostrou-se convicto que, com o auxílio de Isabel Neto – na moderação e acompanhamento de ideias e projectos – “será mais fácil sensibilizar o governo para ajudar a Área Metropolitana do Porto, que infelizmente não tem tido políticos à altura para a defender”.
Na sua opinião, “enquanto nada se fizer não será possível erradicar a pobreza”, reforçando mais uma vez que muitas das casas que estão entaipadas na AMP podem ser aproveitadas para criar uma rede de equipamentos sociais.

--------------------------

A saber

Conteúdo do seminário
O seminário apresentou uma configuração tripartida que se estrutura em torno de práticas alicerçadas na ideia de comunidade de partilha, de discursos que abordam a utilidade social dos espaços urbanos degradados e de projectos arquitectónicos para esses lugares que emergem de modelos participativos. As Práticas foram abordadas por Paula Caramelo, da empresa municipal BragaHabit e Carlos Salgueiral, da associação Benéfica-Previdente. Seguir-se-iam os discursos «A inevitabilidade de aproximação entre os Saberes Formais os Saberes Contextuais na abordagem à Urbanização e Urbanidades», de autoria de Cláudia Rodrigues e «Sociedade, Espaço Colectivo e Arquitectura», por Inês Guedes. Por último procedeu-se à apresentação – a cargo de Paulo Moreira – de projectos realizados por três equipas da nova geração de arquitectos (a oficina TENT4 e Brandão e Costa Lima) que propõem uma nova geração de equipamentos sociais.