Pedro Araújo, in Jornal de Notícias
Na Área Metropolitana do Porto, existem cerca de 30 mil idosos isolados ou em estado de extrema pobreza. Toxicodependentes sem-abrigo são cerca de dois mil. Aqueles dois segmentos merecem particular atenção por parte de uma nova plataforma de instituições sociais que propõe a utilização de pelo menos 1% dos 640 milhões do Quadro de Referência Estratégico Nacional (componentes da valorização do território e potencial humano) para reabilitar casas devolutas e criar residências sociais partilhadas.
A sugestão surgiu no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, ontem assinalado por várias instituições através de múltiplas iniciativas. A Fundação Filos, presidida pelo padre José Maia, teve um papel fundamental no arranque da plataforma denominada "Compromisso com a Inclusão", que já conta com sete instituições. A plataforma pretende criar sinergias e resolver conjuntamente situações críticas na Área Metropolitana.
O conceito de residências partilhadas, com alguma implantação no concelho de Braga, assenta na ideia de que é vantajoso criar famílias "informais" com pessoas isoladas (viúvos, solteiros ou sem família). Partilhando espaços comuns, estes segmentos da pobreza sentem-se mais apoiados. Trata-se de sobrepor "vazios humanos" sobre "vazios urbanos".
Com o intuito de fazer um lóbi social junto do Governo Civil e do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, o padre José Maia convidou 10 jovens arquitectos a apresentarem propostas inovadoras para a recuperação de fogos devolutos. Oficinas e centros de abrigo para toxicodependentes, bem como residências partilhadas, foram os três modelos que o grupo de arquitectos apresentou ontem, durante o seminário "O 3.º Incluído - Nova geração de respostas sociais", evento que decorreu no CACE Cultural, na antiga central eléctrica do Freixo.
Os arquitectos Amélia Brandão Costa e Rodrigo Costa Lima, responsáveis pelos projectos de residências partilhadas, lembraram que no núcleo histórico do Porto está concentrado o grosso da população idosa. Na zona de intervenção prioritária, vivem 43.200 pessoas, sendo que perto de 11 mil têm mais de 65 anos. Cerca de 11 mil imóveis situados naquele núcleo precisam de intervenções de conservação.
A plataforma, ainda embrionária e aberta à participação de associações, IPSS, empresas, universidades e órgãos de comunicação social, pretende ensaiar uma gestão partilhada de equipamentos e recursos, apostando nos pontos fortes de cada instituição.
Números "envergonham" presidente da República
O presidente da República diz-se "envergonhado" com os números que colocam Portugal entre os mais pobres da Europa, mas entende que, sozinho, o Estado não consegue melhorar a situação. "Envergonho-me um pouco desta posição", afirmou ontem Cavaco Silva, na inauguração do Banco de Bens Doados, na Quinta do Cabrinha, uma nova instituição de apoio social. É preciso que "os cidadãos se organizem, trazendo ao de cima a sua consciência social" para combater a pobreza, adiantou o chefe de Estado.
O combate ao abandono escolar e a promoção do emprego para criar condições que permitam fugir à pobreza são outras soluções apontadas por Cavaco, depois de interrompido por um protesto inusitado de um duo de humoristas, enquanto falava aos jornalistas. Um burburinho entre os jovens da Quinta do Cabrinha foi crescendo até se tornar ensurdecedor, ajudado pelo megafone e pela guitarra dos "Homens na luta", do programa "Vai Tudo Abaixo!", da SIC Radical. "Esta gente não quer continuar a ser ostracizada!", gritava um deles. O Banco de Bens Doados, que segue o modelo do Banco Alimentar Contra a Fome, recolhe artigos não perecíveis para distribuir por instituições de solidariedade social.
Fundos comunitários contra a pobreza
A Rede Europeia Anti-Pobreza exigiu que a erradicação da pobreza em Portugal seja uma prioridade neste novo período de fundos comunitários, destacando que é o país da União Europeia (UE) com "maior fosso entre ricos e pobres". A responsável falava à margem de um fórum regional em Évora.
Quatro mil idosos emigrados são apoiados
Cerca de quatro mil idosos carenciados das comunidades portuguesas recebem mensalmente um subsídio de apoio social atribuído pelo Governo português, revelou a Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas.
Ligar questões sociais às políticas económicas
Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, defendeu ser imprescindível que as políticas económicas estejam ligadas a questões sociais e alertou para a necessidade de haver uma mobilização de toda a sociedade no combate à pobreza.
"Levanta-te e faz-te ouvir"
As 21 horas de ontem marcaram o início da acção Mundial "Levanta-te e faz-te ouvir" contra a pobreza e pelos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. A inciativa, coordenada em Portugal pela Oikos, procura alertar para a necessidade de dar voz a quem mais precisa. 23,5 milhões de pessoas que se levantaram em
24 horas a favor de uma causa é o Record do Guiness que se vai tentar superar até às 21 horas de hoje.