Nuno Silva, in Jornal de Notícias
Responsável do Comando do Porto da GNR diz que vai ser intensificado policiamento em alvos potenciais, como bombas de gasolina, ourivesarias e Correios. Investigação criminal é uma "aposta para continuar"
Empossado há um mês, o tenente-coronel Floriano Guimarães, comandante do recém-criado Comando Territorial do Porto da GNR, admite que ainda há "arestas para limar", mas acredita que a restruturação na força de segurança será benéfica.
Em entrevista ao JN, diz esperar um ano difícil a nível de crime violento e elege o policiamento de proximidade como a prioridade.
Com a última restruturação na GNR, o que mudou e que efeitos práticos serão sentidos em termos de operacionalidade?
No caso concreto do Porto, havia dois Grupos Territoriais, o de Matosinhos (cobria a parte Oeste do distrito) e o de Penafiel (Vale do Sousa e Baixo Tâmega). Com a fusão dos dois, conseguiu-se que algum efectivo passasse a desempenhar funções operacionais. Ainda há arestas a ser limadas, mas penso que já se nota alguma visibilidade. Houve outra alteração. Os destacamentos de trânsito do Porto e de Penafiel também passaram a estar integrados no Comando do Porto, o que traz mais-valias, porque assim a decisão quanto à mobilização das várias valências parte do mesmo comandante.
Qual a evolução da criminalidade no distrito em 2008?Que crimes mais preocupam?
Houve um pequeno aumento de criminalidade, de 2007 para 2008, numa percentagem que não será elevada. Não é uma situação alarmante. Não temos ainda dados concretos, porque no início de 2008 perdemos alguma área para a PSP. Os crimes mais frequentes são os que tocam mais às pessoas, os crimes contra o património, como os assaltos a casas.
E os assaltos à mão armada?
Às vezes, há picos, alturas em que temos meia-dúzia de assaltos seguidos e depois períodos calmos. Há grupos desmantelados, mas passado pouco tempo surgem outros a cometer crimes semelhantes, na mesma área ou em concelhos vizinhos.
Qual tem sido o panorama do "carjacking"?
Penso que a situação foi mais ou menos idêntica a 2007. Temos feito um esforço para tentar diminuir esse crime. Não é fácil, porque são crimes que se praticam normalmente em zonas isoladas. Temos equipas a investigar.
A violência doméstica tem tido muita expressão?
Nos últimos anos, tem havido mais denúncias. As vítimas têm perdido a vergonha em denunciar. Agora, também há homens a denunciar situações de violência praticadas pelas companheiras. A violência doméstica tanto existe nas classes baixas como nas médias e altas. A GNR tem núcleos específicos para o tratamento desse fenómeno.
Têm-se sucedido campanhas para a prevenção de crimes contra idosos. Muitos são vítimas de burlas e roubos por exemplo. Como é que a GNR pode actuar?
São casos pontuais, por vezes cometidos pelos mesmo indivíduos e que acontecem nas zonas mais despovoadas. Nesse sentido, temos tido a preocupação em dirigir o patrulhamento para essas áreas e em reforçar o contacto com a população mais idosa.
Receia que este ano haja um aumento do crime violento, sobretudo de assaltos à mão armada, por causa da crise económica e desemprego?
Os problemas sociais e a falta de emprego poderão, eventualmente, levar a um aumento desse tipo de crime. Estamos a preparar-nos para essas situações. Vamos intensificar o patrulhamento nas bombas de combustível, nas ourivesarias, estabelecimentos, estações dos Correios e outros possíveis alvos. A nossa prioridade é o policiamento de proximidade.
Mas a GNR está preparada para seguir essa estratégia?Recorrentemente há queixas de falta de meios materiais e de efectivos...
Estamos preparados. Além do efectivo nos postos, temos outras forças prontas a intervir a qualquer hora do dia ou da noite. Não estão dentro dos quartéis, estão permanentemente no exterior e acorrem rapidamente. Estou a falar dos destacamentos de intervenção.
A extinção das unidades de combate ao tráfico de droga e consequente integração nos NIC (núcleos de investigação criminal) não poderá prejudicar a especialização nessa área?
Julgo que não. Os militares dos ex- NICD (Núcleos de Investigação de Crimes de Droga) continuam a desempenhar as mesmas funções, mas agora integrados nos NIC, que investigam todo o tipo de crime. Penso que a troca de informações será melhor, porque estão mais vezes juntos e conseguem transmitir uns aos outros os conhecimentos de cada área.
Acha que a GNR pode ir mais longe na área da investigação criminal? Há meios e preparação técnica para um salto qualitativo?
A Guarda já tem qualidade na investigação. Tem feito um esforço para dar formação aos militares especializados nas várias valências. Há uma aposta forte, que vai continuar.
Como analisa a questão da proliferação de armas ilegais? Qual a melhor forma de combater este fenómeno?
Temos feito acções específicas no terreno para a detecção de armas ilegais. É um fenómeno que tem sido estudado para se tentar saber onde é que existem e qual o "modus operandi" na sua passagem.
Tem notado um crescimento de crimes cometidos por menores?
Têm aparecido alguns grupos de jovens a cometer crimes. Deve ser feita uma análise do contexto, ao nível da educação e falta de acompanhamento dos jovens. A ideia que tenho, contudo, é que, na nossa zona, não é uma situação alarmante.
E a criminalidade associada às escolas? O projecto Escola Segura é para continuar?
Pontualmente, há algumas situações, mas nada de grave. A Escola Segura é uma aposta para continuar e, se possível, reforçar. A presença da GNR diminui não só os conflitos entre alunos, como com pessoas exteriores aos estabelecimentos de ensino.