2.2.09

"Desemprego pode aumentar crime"

Nuno Silva, in Jornal de Notícias

Responsável do Comando do Porto da GNR diz que vai ser intensificado policiamento em alvos potenciais, como bombas de gasolina, ourivesarias e Correios. Investigação criminal é uma "aposta para continuar"


Empossado há um mês, o tenente-coronel Floriano Guimarães, comandante do recém-criado Comando Territorial do Porto da GNR, admite que ainda há "arestas para limar", mas acredita que a restruturação na força de segurança será benéfica.

Em entrevista ao JN, diz esperar um ano difícil a nível de crime violento e elege o policiamento de proximidade como a prioridade.

Com a última restruturação na GNR, o que mudou e que efeitos práticos serão sentidos em termos de operacionalidade?

No caso concreto do Porto, havia dois Grupos Territoriais, o de Matosinhos (cobria a parte Oeste do distrito) e o de Penafiel (Vale do Sousa e Baixo Tâmega). Com a fusão dos dois, conseguiu-se que algum efectivo passasse a desempenhar funções operacionais. Ainda há arestas a ser limadas, mas penso que já se nota alguma visibilidade. Houve outra alteração. Os destacamentos de trânsito do Porto e de Penafiel também passaram a estar integrados no Comando do Porto, o que traz mais-valias, porque assim a decisão quanto à mobilização das várias valências parte do mesmo comandante.

Qual a evolução da criminalidade no distrito em 2008?Que crimes mais preocupam?

Houve um pequeno aumento de criminalidade, de 2007 para 2008, numa percentagem que não será elevada. Não é uma situação alarmante. Não temos ainda dados concretos, porque no início de 2008 perdemos alguma área para a PSP. Os crimes mais frequentes são os que tocam mais às pessoas, os crimes contra o património, como os assaltos a casas.

E os assaltos à mão armada?

Às vezes, há picos, alturas em que temos meia-dúzia de assaltos seguidos e depois períodos calmos. Há grupos desmantelados, mas passado pouco tempo surgem outros a cometer crimes semelhantes, na mesma área ou em concelhos vizinhos.

Qual tem sido o panorama do "carjacking"?

Penso que a situação foi mais ou menos idêntica a 2007. Temos feito um esforço para tentar diminuir esse crime. Não é fácil, porque são crimes que se praticam normalmente em zonas isoladas. Temos equipas a investigar.

A violência doméstica tem tido muita expressão?

Nos últimos anos, tem havido mais denúncias. As vítimas têm perdido a vergonha em denunciar. Agora, também há homens a denunciar situações de violência praticadas pelas companheiras. A violência doméstica tanto existe nas classes baixas como nas médias e altas. A GNR tem núcleos específicos para o tratamento desse fenómeno.

Têm-se sucedido campanhas para a prevenção de crimes contra idosos. Muitos são vítimas de burlas e roubos por exemplo. Como é que a GNR pode actuar?

São casos pontuais, por vezes cometidos pelos mesmo indivíduos e que acontecem nas zonas mais despovoadas. Nesse sentido, temos tido a preocupação em dirigir o patrulhamento para essas áreas e em reforçar o contacto com a população mais idosa.

Receia que este ano haja um aumento do crime violento, sobretudo de assaltos à mão armada, por causa da crise económica e desemprego?

Os problemas sociais e a falta de emprego poderão, eventualmente, levar a um aumento desse tipo de crime. Estamos a preparar-nos para essas situações. Vamos intensificar o patrulhamento nas bombas de combustível, nas ourivesarias, estabelecimentos, estações dos Correios e outros possíveis alvos. A nossa prioridade é o policiamento de proximidade.

Mas a GNR está preparada para seguir essa estratégia?Recorrentemente há queixas de falta de meios materiais e de efectivos...

Estamos preparados. Além do efectivo nos postos, temos outras forças prontas a intervir a qualquer hora do dia ou da noite. Não estão dentro dos quartéis, estão permanentemente no exterior e acorrem rapidamente. Estou a falar dos destacamentos de intervenção.

A extinção das unidades de combate ao tráfico de droga e consequente integração nos NIC (núcleos de investigação criminal) não poderá prejudicar a especialização nessa área?

Julgo que não. Os militares dos ex- NICD (Núcleos de Investigação de Crimes de Droga) continuam a desempenhar as mesmas funções, mas agora integrados nos NIC, que investigam todo o tipo de crime. Penso que a troca de informações será melhor, porque estão mais vezes juntos e conseguem transmitir uns aos outros os conhecimentos de cada área.

Acha que a GNR pode ir mais longe na área da investigação criminal? Há meios e preparação técnica para um salto qualitativo?

A Guarda já tem qualidade na investigação. Tem feito um esforço para dar formação aos militares especializados nas várias valências. Há uma aposta forte, que vai continuar.

Como analisa a questão da proliferação de armas ilegais? Qual a melhor forma de combater este fenómeno?

Temos feito acções específicas no terreno para a detecção de armas ilegais. É um fenómeno que tem sido estudado para se tentar saber onde é que existem e qual o "modus operandi" na sua passagem.

Tem notado um crescimento de crimes cometidos por menores?

Têm aparecido alguns grupos de jovens a cometer crimes. Deve ser feita uma análise do contexto, ao nível da educação e falta de acompanhamento dos jovens. A ideia que tenho, contudo, é que, na nossa zona, não é uma situação alarmante.

E a criminalidade associada às escolas? O projecto Escola Segura é para continuar?

Pontualmente, há algumas situações, mas nada de grave. A Escola Segura é uma aposta para continuar e, se possível, reforçar. A presença da GNR diminui não só os conflitos entre alunos, como com pessoas exteriores aos estabelecimentos de ensino.