Salomão Rodrigues, in Jornal de Notícias
Mulheres do sector da cortiça dizem que fazemo mesmo que os homens mas ainda ganham menos
Fazer o mesmo trabalho dos homens e receber salário inferior é a realidade há muito vivida pelas mulheres que trabalham no sector da cortiça.
Uma discriminação que se estende, ainda, na oportunidade de progressão na carreira e no acesso ao primeiro emprego.
"Os homens sempre ganharam mais do que as mulheres. Mesmo quando passamos a fazer o trabalho destinado aos homens continuamos a receber menos do que eles", confirma Margarida Ribeiro, natural de Fiães, que durante 38 anos trabalhou na Facol, uma empresa de cortiça de Lourosa que, actualmente, se encontra encerrada.
Durante décadas teve como função escolher as diferentes qualidades de rolhas. Mas nos últimos anos o trabalho mais pesado, geralmente destinado aos homens, passou a fazer parte das suas funções. "Há dois anos atrás fomos obrigadas a fazer paletes de cortiça, a carregar sacos de pó e empilhar cortiça, trabalho que era considerado dos homens e que passou a ser feito pelas mulheres". "Mas continuamos com o salário inferior", afirma.
Desempregada e sem perspectiva de vir a conseguir um novo emprego, a ex-funcionária recorda que no sector da cortiça "as mulheres são tratadas pior do que os homens, mesmo na maneira como falam para nós".
Uma opinião partilhada pela sua irmã, que trabalhou mais de quatro décadas no sector da cortiça. "Para cima de uma pilha de cortiça tanto ia um homem como uma mulher; a única diferença era ao fim do mês no ordenado", adianta Maria da Conceição, referindo a "frustração" que dizem ter sentido. Mas, adianta, "não podíamos recusar o trabalho, porque nos mandavam para casa".
Uma discriminação salarial em função do sexo que foi reconhecida pela entidade representante dos empresários, Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR), que aceitou assinar um acordo com o Sindicato dos Corticeiros em que foi estabelecido acabar com essa diferença salarial até 2015.
"Ainda há muitas mulheres que estão a fazer o mesmo trabalho e recebem menos", adianta o coordenador do sindicato, Alírio Martins, lembrando que a discriminação é sentida noutras áreas do sector. "Não conheço nenhuma mulher que esteja a administrar uma empresa e mesmo nos quadros superiores há também diferença salarial entre homem e mulher."