3.9.10

Autarquias recuam em projecto para repovoar o interior

Por Marisa Soares, in Jornal Público

Devia estar para fazer um ano. A mudança das primeiras dez famílias de Lisboa para Évora com o apoio do projecto Novos Povoadores foi anunciada para Setembro de 2009. Mas até agora nada aconteceu, nem em Évora nem nos outros concelhos que mostraram interesse em aderir: Abrantes, Idanha-a-Nova e Marvão.

As câmaras teriam de pagar à equipa promotora dos Novos Povoadores a quantia de 3650 euros por cada agregado que se mudasse para o interior do país. Porém, o que aconteceu é que "os municípios não pagaram", diz Frederico Lucas, um dos três fundadores do projecto. Aquele montante dividia-se em diferentes partes. Uma pagaria o apoio dado à família, ao nível da habitação, educação e logística da deslocação. A outra diz respeito à formação para o empreendedorismo e serviços de consultoria para o projecto que cada família desenvolveria, esclarece Frederico Lucas, que lamenta o actual desfecho: "As câmaras anunciaram a adesão, mas depois recuaram."

O presidente da Câmara de Évora, José Oliveira, disse ao PÚBLICO, em Junho de 2009, que estava "honrado" por Évora ser a cidade mais procurada pelos candidatos. Com a chegada de novos habitantes, queria revitalizar o centro histórico. No entanto, diz Frederico, "depois disseram que não tinham verba e deixaram de atender o telefone". O PÚBLICO tentou, sem sucesso, confirmar esta informação com o autarca de Évora.

A falta de verbas também bloqueou a chegada dos Novos Povoadores a Idanha-a-Nova. "O Programa de Estabilidade e Crescimento retirou-nos 480 mil euros do orçamento. Tivemos de fazer opções", justifica Álvaro Rocha. O autarca garante que "logo que as condições sejam mais favoráveis", volta a contactar os promotores. Até porque o concelho perde, em média, 300 habitantes por ano. Em Marvão, o projecto teve o acordo do executivo mas não passou na assembleia municipal. "A maioria rejeitou os prazos de pagamento. Fez-se uma nova proposta, mas os responsáveis do projecto não aceitaram", diz José Manuel Pires, vereador da Cultura, que acabou por suspender o processo. "Está à espera de outra oportunidade", sublinha.

"Os autarcas continuam muito orientados para a obra", critica Frederico Lucas, que trocou Lisboa por Trancoso e não se arrepende. "Aqui gasto um quinto do que gastava", diz. Mas aponta o que falta ao interior: "Falta software empresarial. Já há estruturas, mas faltam empreendedores". É isso que Frederico quer mudar. Até agora, sem sorte.