Por Margarida Gomes, in Jornal Público
Com os custos dos tratamentos a aumentar - o número de doentes infectados que estão a ser tratados duplicou -, Henrique Barros, coordenador nacional para a infecção VIH/sida, não quer ouvir falar de cortes de verbas na área da prevenção da doença e só espera que a situação económica não sirva de pretexto para se inverter a aposta que a sua equipa tem feito nesta área. Mas Henrique Barros vai mais longe e desafia a indústria farmacêutica a praticar preços mais acessíveis para continuar a combater a epidemia.
"Este ano [os medicamentos] serão seguramente dez por cento mais caros, porque temos mais dez por cento de doentes em tratamento", diz Henrique Barros, declarando que Portugal pratica preços mais caros do que Espanha, por exemplo. "O esforço tem de ser de todos", acrescenta, notando que "a indústria tem de tornar os preços e o acesso à medicação possíveis, porque de outra maneira, enquanto sociedade, não conseguimos aquilo que desejamos." O coordenador deixa um apelo. "Se nós dobrámos o número de doentes em tratamento e se há uma política para continuar a procurar as pessoas com infecção", a indústria deverá perceber que os seus lucros podem manter-se mesmo que os preços sejam mais baixos. De que forma? Através do aumento do volume de vendas.
Ontem, na conferência Sida: Prevenção, Informação e Diagnóstico, em Lisboa, o secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro, aludiu aos constrangimentos financeiros do país, mas disse que é preciso continuar a garantir a todos o acesso universal à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento. "Estamos a fazer um esforço também nesta área para sermos mais eficientes, mas eficiência não quer dizer tratar menos os doentes ou tratar pior", frisou.
Sobre o novo programa nacional de prevenção e controlo da infecção 2011-2014, que desenvolve a estratégia para orientar e coordenar o esforço nacional na luta contra a sida ao longo dos próximos anos, Henrique Barros diz apenas que ele "procurará aprofundar e melhorar aquilo que funcionou bem" e "terá de preparar respostas às situações novas". Para sexta-feira está prevista uma reunião com as diferentes entidades envolvidas na luta contra a sida, da qual deverá sair a proposta final do futuro programa.