20.12.10

A pobreza cresce e concentra atenções

in Destak.pt

Portugal foi um país que deu importância ao Ano Europeu Contra a Pobreza com 135 mil visitas no site oficial e 18 mil fãs no Facebook. Em 2010, a situação de muitas famílias agravou-se e Portugal liderou a tabela dos europeus com mais crianças pobres. As expetativas para 2011 não são melhores.

Quando foi idealizado, o Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão Social seria uma forma de marcar na agenda a questão da pobreza. No entanto, “por surpresa, chega a crise e o ano europeu aparece como que a vir dar resposta a ela”, lembra o padre Jardim Moreira, presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza.

Este ano acabou por ser um período de agravamento da situação dos mais desfavorecidos: “Vemos a pobreza a aumentar de forma desmesurada, causada pelas falências, desemprego e falta de apoio a muita gente que não recebe subsídios porque não descontava. Temos um mundo de gente em maus lençóis”, alerta.

Entre os grupos mais frágeis, Jardim Moreira escolhe as crianças e lembra os últimos dados do Eurostat que colocam “Portugal à frente na Europa com a maior percentagem de crianças pobres”: um em cada quatro meninos que vivem no país passa dificuldades.

“É a falta de habitação, de higiene, de saúde, de acompanhamento familiar... São um conjunto de situações que levam a que a criança não tenha as condições necessárias para um crescimento integral e equilibrado”, explica, sublinhando que a pobreza não se resume a ter ou não dinheiro.

Jardim Moreira diz que estas crianças são “filhas de mães adolescentes, solteiras, divorciadas, que ficam muito debilitadas no seu apoio”. Depois, “abandonam a escola” ou “têm insucessos escolares”. No futuro “terão necessariamente dificuldades de reinserção”.

É ainda cedo para perceber se foi o agravamento da crise que fez com que a problemática ganhasse destaque ou se foi o Ano Europeu que fez com que o tema passasse a ser mais falado. Certo é que em 2010 a palavra “pobreza” passou a estar diariamente nos média.

“Este ano tivemos um grande empenho da imprensa nas questões da pobreza”, diz Edmundo Martinho, presidente do Instituto da Segurança Social e responsável pelo ano europeu em Portugal.

De acordo com números do gabinete responsável pelo ano europeu, na imprensa escrita e online, as notícias sobre o tema ultrapassaram as 3300. Na televisão, 220 notícias falaram no Ano Europeu. E na rádio mereceu 139 notícias. Estes números só dizem respeito a peças em que tenha sido referido expressamente o Ano Europeu de Luta Contra a Pobreza. Existem muitas outras sobre pobreza que não estão aqui contabilizadas, alertam os responsáveis pelo ano europeu em Portugal.

Além da comunicação social, Edmundo Martinho salienta a “mobilização muito elevada” das associações e da sociedade civil. E as expetativas para 2011 não são as melhores: “Este ano não é um positivo para muita gente mas no próximo, com as propostas e agravamentos que vão ser impostos à sociedade portuguesa, vão piorar as condições de muita gente”, acrescenta o padre Jardim Moreira.

“Portugal foi o país onde mais se cuidou e discutiu a pobreza, mas ficou-se muito na resposta assistencialista e essa não muda, não acaba com o problema”, conclui.