Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias
Fazer exercício físico parece determinante na saída de uma situação de depressão profunda. O enquadramento dessa actividade marca também a diferença nos doentes seguidos em consulta e medicados. "Mexa-se! Pela sua depressão", é novo conselho médico.
Uma percentagem significativa (21%) de doentes com depressão grave recuperou da doença depois de ter seguido um programa diário de exercício físico, mantido a par da medicação. Outros doentes, apenas medicados, não alcançaram o mesmo resultado, de acordo com um estudo para que foram seleccionados 33 doentes da consulta externa de psiquiatria do Hospital de Magalhães de Lemos, no Porto.
Caminhadas numa passadeira rolante a cinco km/hora ou num ambiente perto de casa, durante 30 a 45 minutos, cinco vezes por semana. A proposta foi feita a 23 pessoas de entre as 33 com depressão "major" seleccionadas para o estudo coordenado por Jorge Mota Pereira, médico de psiquiatria, que contou com a colaboração da Universidade do Minho e da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
O estudo, que mereceu o primeiro prémio entre os 206 "posters" apresentados no VI Congresso Nacional de Psiquiatria da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, realça nos seus resultados que a actividade física, moderada e regular, contribui para uma percentagem significativa de curas em caso de depressão profunda. Essa conclusão decorre da comparação entre dois grupos de doentes. Dez de entre os 33 seleccionados não fizeram exercício regular, sendo que todos seguiam a medicação adequada para as situações de depressão "major".
O que os autores do estudo verificaram foi que dos 23 que praticaram exercício físico (sendo que 91% deles fizeram mesmo o combinado com a equipa de investigação) cinco tiveram remissão total e quatro ficaram muito melhor. De acordo com Jorge Mota Pereira, os resultados foram tanto mais positivos quanto três dos doentes, que estavam de "baixa", retomaram o trabalho. Em síntese, "houve uma taxa de remissão de 21%, o que é excelente".
O médico de Psiquiatria destaca o facto de ter sido evidenciado que o exercício é o factor que potencia a medicação adequada á depressão. E sublinha que essa actividade dos doentes foi devidamente enquadrada por técnicos, com explicações, envio de SMS e ensino de truques para lembrar os exercícios.
Além disso, os doentes, todos eles foram monitorizados por um acelerómetro, que só retiravam na hora de se deitarem. O aparelho monitorizava todos os seu movimentos. "O exercício físico funciona por si, dado facilitar a produção de endorfinas e outros mediadores químicos cerebrais", admite o autor principal do estudo.