Nuno Guedes, in TSF
Um estudo da DGS mostra que 27,3% dos portugueses adultos que frequentam centros de saúde alteraram o consumo de algum alimento essencial devido a dificuldades económicas. E 17,3% têm insegurança alimentar moderada ou grave.
Os desempregados e as famílias com 3 ou mais filhos têm muito maior risco de cortar na alimentação e estar naquilo a que as autoridades de saúde classificam como «insegurança alimentar moderada ou grave».
Os números estão num estudo publicado esta quinta-feira pela Direção-Geral de Saúde (DGS), "Portugal - Alimentação Saudável em Números 2014".
O trabalho concluiu que 27,3% dos portugueses adultos que frequentam centros de saúde alteraram, em 2013, o consumo de algum alimento essencial devido a dificuldades económicas.
Os números baseiam-se num inquérito que questionou 1282 utentes e perto de 17% são incluídos pela DGS nas categorias de famílias com «insegurança alimentar moderada ou grave». Vendo mais ao detalhe, a insegurança alimentar moderada, que se refere a pessoas que já alteraram ou reduziram uma ou outra refeição ao longo do dia devido a restrições, maioritariamente financeiras, atinge 10,1% dos entrevistados.
A insegurança alimentar grave, referente a pessoas que restringiram drasticamente pelo menos uma das refeições ao longo do dia, atinge 7,2%. Há ainda 33,4% das famílias preocupadas em não ter alimentos suficientes para comer, a chamada «insegurança alimentar ligeira».
Outros cálculos feitos pela DGS, com dados dos inquéritos feitos de 2011 a 2013, permitem ainda ver que os desempregados têm um risco 3,7 vezes maior que um activo de estar numa situação de insegurança alimentar grave.
Nas famílias com 2 filhos o risco de estar em insegurança alimentar moderada ou grave sobe ligeiramente, mas dispara a partir do terceiro filho. Uma família com 3 ou 4 filhos tem um risco 1,6 a 1,9 vezes superior ao de quem tem apenas um filho. Valores que sobem para 3,1 quando olhamos para as famílias com 5 ou mais descendentes.
O diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, e um dos autores do relatório, diz que a caracterização anterior é particularmente importante pois permite identificar os grupos que merecem mais atenção. Pedro Graça explica que o risco de insegurança alimentar é claramente maior no Algarve e na região de Lisboa e Vale do Tejo, em pessoas de famílias mais numerosas e entre os desempregados: «são claramente estes os grupos de risco a que devemos estar mais atentos e preocupados».
O especialista sublinha ainda que os dados revelam que, naturalmente, as pessoas com baixo peso têm 2 vezes maior probabilidade de estar numa situação de insegurança alimentar moderada ou grave, mas esse risco também é ligeiramente maior entre os obesos, numa conclusão que já tinha sido detetada nos Estados Unidos da América e que se encontrou, agora, pela primeira vez em Portugal.