João Ferreira do Amaral, in Rádio Renascença
A crise dos refugiados, por enquanto insolúvel, mostrou bem, tal como a moeda única, o absurdo dais ideias federalistas de enfraquecer os estados, criando uma Europa forte com base em estados fracos
Estamos, evidentemente, a testemunhar grandes novidades na política portuguesa. Mas essas mesmas novidades talvez nos impeçam de estar suficientemente atentos às mudanças que também estão a ocorrer na União Europeia, mudanças de que ainda não sabemos qual vai ser o resultado, mas que nos permitem prever com forte grau de probabilidade que a União está num ponto de viragem. Para onde, não sabemos.
Certas das causas desta mudança são internas à União e já têm alguns anos de incubação. A tomada de poder pela Alemanha como estado dominante, impondo políticas de austeridade absurdas, criou, quase de um momento para o outro, mas sem surpresa, um forte aumento dos descontentes com a União, que têm sido precipitadamente apelidados de “extrema-direita” ou “extrema-esquerda” consoante os casos.
Outras causas nascem fora da União. A crise dos refugiados, por enquanto insolúvel, mostrou bem, tal como a moeda única, o absurdo dais ideias federalistas de enfraquecer os estados, criando uma Europa forte com base em estados fracos. Como é evidente, os estados reagiram e são cada vez mais aqueles que, infelizmente, apontam para soluções musculadas estatais para uma crise que poderia ter sido tratada de outra forma, se os estados mantivessem as suas competências essenciais, nomeadamente, no que respeita ao controlo das fronteiras.
Há depois as questões nacionais. O Reino Unido acaba de apresentar um caderno negocial tal, que não vejo que possa terminar ou sem a sua saída da União ou sem uma alteração profunda das regras desta. Em Espanha, o processo independentista iniciado pelo parlamento catalão vai também pôr à prova - e de que maneira - as instituições da União.
A minha esperança é que o resultado disto tudo seja uma redução do centralismo europeu e a devolução aos estados de alguns poderes que lhes foram retirados em benefício de um centro que criou uma União disfuncional e patética.
Por isso, seria bom que Portugal criasse um novo conceito para a sua relação com a União que substitua, de uma vez por todas, a catastrófica estratégica, que estamos a pagar com língua de palmo, de pertencermos sempre ao grupo de países mais avançados na integração europeia.