Catarina Gomes, in Jornal Público
Número de casos no país continua a descer, mas mais de metade dos diagnósticos são feitos tardiamente. Direcção-Geral de Saúde instituiu em Outubro obrigatoriedade de testes
O número de casos de tuberculose em Portugal continua a descer, mas o país tem a mais alta proporção de infecção por HIV em doentes com tuberculose na região europeia da Organização Mundial de Saúde (OMS), que inclui 33 países, revelam os dados mais recentes da Direcção-Geral da Saúde referentes a 2006.
O problema já era admitido pela Direcção-Geral da Saúde, que, no mês passado, referia numa circular que a prevalência do HIV em pessoas com tuberculose é 50 vezes superior à da população em geral. Por esta razão, este organismo oficial instituiu em Outubro a obrigatoriedade de oferecer testes para a detecção do HIV na altura do diagnóstico da tuberculose, podendo os doentes recusá-los.
No ano passado foi notificado um total de 3092 novos casos de tuberculose, o que corresponde a uma taxa de 29,4 casos por 100 mil habitantes, menos seis por cento do que no ano anterior, revelam dados preliminares da Associação Nacional de Tuberculose e Doenças Respiratórias (ANTDR). Em termos comparativos, este número significa a continuação da tendência de descida lenta de novos casos: nos últimos dez anos houve uma descida de 31 por cento dos casos.
Ainda assim, Portugal continua a ter a mais elevada incidência entre os países da União Europeia antes do alargamento (com 15 membros) e metade dos casos só é detectada já nos hospitais, quando a doença avançou e já é necessário o internamento, referiu o presidente da ANTDR, Teles Araújo, numa sessão de esclarecimento para jornalistas esta semana em Lisboa.
Este é um sinal de que há "diagnóstico tardio", o que significa que os casos da doença não são detectados nos centros de saúde e que poderá haver "subvalorização das queixas" (por exemplo, tosse persistente e perda de peso) pelos médicos de família, notou o médico.
Segundo cálculos feitos por Teles Araújo, os clínicos nos centros de saúde têm pouco contacto com a doença - vêem um caso de dois em dois anos. Outro problema apontado pelo médico é o "insuficiente rastreio de conviventes", ou seja, quando é detectado um novo caso as pessoas com quem o doente contacta também deveriam ser testadas quanto à presença do bacilo, o que nem sempre acontece.
O tratamento da tuberculose pode levar períodos que ultrapassam os seis meses, com a toma quase diária de medicamentos e com efeitos secundários. Um problema detectado em vários países é a interrupção de tratamentos, o que pode provocar resistência aos fármacos, criando casos da chamada tuberculose multirresistente (quando há resistência aos dois principais antibióticos).
Em Portugal, foram 1,7 por cento do total de casos em 2006. Além dos 3092 novos casos notificados, houve também 241 casos de retratamento. A tuberculose multirresistente tornou-se um problema a nível mundial porque faz da tuberculose, uma doença com cura, numa patologia potencialmente intratável.