11.11.09

Consumidores e empresas insolventes são os devedores que mais crescem em Portugal

Por Inês Sequeira, in Jornal Público

Estudo sobre incumprimento no pagamento de dívidas conclui que a maior fatia dos casos se situa na região da Grande Lisboa. Centro é onde há menos situações de dívidas

O número de particulares e de empresas insolventes é o que mais está a crescer em Portugal, entre os devedores que não cumprem os prazos de pagamento, alerta o director-geral da Intrum Justitia Ibérica, Luís Salvaterra.

Esta é uma das principais conclusões de um estudo desta multinacional sueca especializada em serviços de gestão de créditos, que classificou o perfil dos devedores portugueses (particulares e empresas) e determinou o peso de cada um dos tipos encontrados (ver infografia).

O universo analisado para o estudo sobre Portugal, na base de dados da Intrum Justicia, ascende a 620 mil casos de incumpridores que em 2009 passaram pelas mãos desta firma, sem que fosse possível ter sucesso na cobrança das respectivas dívidas - e que seguiram entretanto para outras instâncias, como os tribunais, após um período médio de três meses.

Destes "incobráveis", que não pagaram às empresas clientes da multinacional sueca, 75 por cento são consumidores particulares e os restantes pertencem ao universo empresarial. Em causa está um montante de 690 milhões de euros de crédito que ficou por resolver, ligado às áreas de telecomunicações, televisão por cabo, correio directo, comércio entre empresas, mas também no crédito ao consumo.

Dentro das principais conclusões do estudo, "o que se nota é o crescimento" do conjunto de consumidores e de firmas que não têm efectivamente meios para liquidar as dívidas, destacou Luís Salvaterra, durante a apresentação do estudo à comunicação social.

"Uns vão tapando a cabeça com o cobertor e destapam os pés (oportunistas, por exemplo); mas nos insolventes, o que se vê é que já nem têm cobertor", ironiza.

Essa tendência reflecte-se também na taxa de sucesso da cobrança de dívidas a devedores faltosos, que caiu para 32 por cento nos primeiros nove meses deste ano, quando em 2008 era de 40 por cento. "Este é um problema não só em Portugal mas em toda a Europa." Em Espanha, aliás, a situação é bem mais grave, indica o mesmo responsável.

Outros devedores que estão a crescer muito são as "empresas que fecham e desaparecem". Enquadram-se no conceito de firmas "nómadas" e mesmo os tribunais têm sérias dificuldades. "Os credores perdem o rasto e não é possível contactar a firma com base nos dados indicados", afirma o estudo.

Mas na maior parte dos casos, quem não paga são os chamados devedores "sinceros": "Porque não concordam com o valor facturado ou ficaram insatisfeitos com o serviço", indica Luís Salvaterra. "Nesses casos, servimos como intermediários entre os nossos clientes e os devedores."

Do lado dos negócios, a maior fatia dos incumpridores corresponde às empresas "selectivas", que gerem os atrasos de acordo com as próprias prioridades. As primeiras dívidas pagas são normalmente as mais importantes para a actividade. Por exemplo, numa firma de construção civil, os fornecedores de cimento, tijolos e outros materiais são dos primeiros a receber.

O Centro é a região com menos casos de dívidas por liquidar, face à população e ao número de empresas. Luís Salvaterra atribui isso a uma cultura mais ligada aos valores tradicionais. O contrário acontece na Grande Lisboa: "Na metrópole, as pessoas são mais atiradas para o crédito. Há também mais empresas que vão aparecendo e desaparecendo."