por C.D.S, in Diário de Notícias
Análise diz que Portugal tem dos melhores desempenhos, não verificando aumento nas perdas desconhecidas. Furtos pelos clientes são maior causa de prejuízos.
O mercado retalhista português perde 40 mil euros a cada hora que passa. Em causa estão os furtos de clientes (quase metade das perdas) e empregados e os erros internos. A conclusão é de um estudo apresentado ontem, no Centro Cultural de Belém. O Barómetro Anual Global do Furto no Retalho deste ano mediu a perda desconhecida no mercado retalhista, sobretudo supermercados, em 41 países, mostrando que, apesar dos valores aparentemente exorbitantes, Portugal apresenta uma boa performance, tendo apenas à sua frente a Áustria, a Suíça, a Alemanha, a Dinamarca e a Holanda.
Paulo Borges, director de marketing da Checkpoint Systems, uma empresa internacional de gestão na área da perda desconhecida, atribui os resultados positivos aos grandes investimentos que o mercado luso tem feito na segurança, adiantando ainda que "o que se faz em Portugal não está atrás de nenhum outro mercado". Na apresentação estiveram também os responsáveis de duas grandes cadeias do mercado retalhista português, o director de operações do grupo Jerónimo Martins, José Silva Ferreira, e o director nacional da Auchan Portugal, Silvestre Machado.
Os valores apresentados referem-se ao intervalo de Julho de 2008 a Junho deste ano e mostram que Portugal tem uma taxa de perda desconhecida de 344 milhões de euros, ou seja, 1,26% das vendas totais do retalho, um valor abaixo da média europeia (1,33%) e da média global (1,43%). Ainda sobre o prejuízo que as superfícies comerciais têm com os furtos, Paulo Borges sublinhou que, para além do valor das quebras, a análise comporta os custos acrescidos que o retalho nacional dispensa para a prevenção, correspondente a 90 milhões de euros.
Sobre um possível aumento do valor dos produtos para minimizar os efeitos das perdas, José Silva Ferreira adiantou que é a concorrência que dita os preços, descartando a ideia de uma espécie de "impostos indirectos" sobre os produtos.
O inquérito feito a mais de mil retalhistas de vários pontos do mundo atesta que a perda desconhecida global aumentou cerca de 6% em relação aos dados de 2008, situação contrariada por Portugal, que manteve o número inalterado.
Quando confrontado com o impacto da crise nos valores apresentados, o representante do grupo Jerónimo Martins diz que não vê qualquer ligação directa entre os furtos e a recessão, sublinhando, no entanto, que as lojas situadas em zonas que sentem mais a crise, ou seja, em bairros problemáticos, têm maior número de incidentes. "O Governo amontoou em prédios as pessoas desintegradas, formando uma espécie de guetos."
O estudo mostra ainda que produtos furtados são sempre os mesmos (ver caixa) e para Paulo Borges cada vez mais é preciso uma estreita colaboração entre quem produz e quem vende, sendo certo que, tal como referiu Silvestre Machado, "a segurança é um processo dinâmico, que tem sofrido, nos últimos anos, melhorias ao nível da indústria". Segundo o representante do grupo Auchan, é preciso dissuadir o crime amador, sem esquecer o crime organizado.
As apreensões realizadas mostram que os furtos por parte de clientes assumem uma percentagem de 48,7% e em segundo lugar surgem os "roubos" dos empregados, com 27,5%. Por último, os erros internos e de fornecedores, com 6,8% e 17%, respectivamente.
Os dois directores estiveram sempre de acordo quanto às questões basilares da segurança no retalho, tendo saído reforçada a ideia de que este assunto os "preocupa, mas não é preocupante".